Malin, homem medíocre, incapaz de apreciar o tenebroso génio de Fouché, nem de desconfiar do seu golpe de vista queimou-se, como uma borboleta numa candeia, ao pedir-lhe confidencialmente, que lhe enviasse um agente a Gondreville, onde, segundo ele dizia, esperava obter luzes sobre a conspiração. Fouché, sem alarmar o seu amigo com qualquer pergunta, interrogou os seus botões quanto ao que iria fazer Malin a Gondreville, e porque não daria ele em Paris e imediatamente as informações que porventura teria a dar. O ex-oratoriano, farto de velhacarias e a par do duplo papel desempenhado por muitos convencionais, disse de si para consigo:
- Por quem é que Malin pode saber alguma coisa quando nós ainda não sabemos nada?
Fouché acabou por concluir, portanto, que havia cumplicidade latente ou em expectativa, e tratou de nada dizer ao Primeiro Cônsul. Preferia fazer de Malin um instrumento seu a perdê-lo. Fouché desta sorte reservava para si próprio grande parte dos segredos que surpreendia, e conseguia sobre as pessoas um poder superior ao de Bonaparte. Esta duplicidade foi uma das razões de queixa de Napoleão contra o seu ministro. Fouché estava a par da patifaria graças à qual Malin conseguira as suas terras de Gondreville, e que o obrigava a vigiar os senhores de Simeuse. Os Simeuse serviam no exército de Condé, a Menina de Cinq-Cygne era prima deles, podiam, portanto, encontrar-se naquelas imediações e participar na conspiração. A sua participação implicava na conjura a casa de Condé, à qual eles se haviam dedicado. O Senhor de Talleyrand e Fouché queriam esclarecer este lado por de mais obscuro da conspiração de 1803.
Estas considerações foram apreendidas por Fouché rapidamente e com lucidez. Mas existiam entre Malin, Talleyrand e ele laços que o forçavam a usar da maior circunspecção e o levavam a desejar conhecer perfeitamente o interior do castelo de Gondreville.