Michu voltou a acamar as pedras, umas sobre as outras, à entrada do subterrâneo como um pedreiro o não faria melhor. Mal acabara a tarefa ouviu-se o trotar dos cavalos e a voz dos gendarmes no silêncio da noite; nem por isso contudo deixou Michu de fazer lume tranquilamente, com a pederneira, de incendiar uma pernada de pinheiro, e de guiar a condessa até ao in-pace, onde estava ainda o pedaço de vela que lhe servira para explorar o subterrâneo. A porta, de ferro, de chapas sobrepostas, embora perfurada aqui e ali pela, ferrugem, fora convenientemente reparada pelo guarda, e fechava-se exteriormente com trancas que se adaptavam às respectivas ranhuras cavadas de cada lado da parede. A condessa, morta de cansaço, deixou-se cair num banco de pedra, por cima do qual se via ainda uma argola chumbada na parede.
- Aqui tem um salão para conversar - disse Michu. - Os gendarmes podem procurar à vontade. O pior que podia acontecer-nos era levarem-nos os cavalos.
- Se nos levam os cavalos matam meus primos e os Senhores de Hauteserre!... Vejamos, que sabes tu?
Michu contou o pouco que pudera apreender da conversa de Malin com Grévin.
- Vão a caminho de Paris, onde chegarão esta manhã - disse a condessa, quando Michu acabou o relato.
- Perdidos! - exclamou Michu. - Com certeza ninguém entra ou sai da cidade. As barreiras estão vigiadas. Malin terá o cuidado de deixar que eles se comprometam quanto mais melhor, para dar, cabo deles.
- E eu que desconheço o plano geral da conspiração! - exclamou Laurence. - Como prevenir Georges, Riviêre e Moreau? Onde estarão eles? Bom, pensemos antes de mais nada nos meus primos e nos Hauteserre: vai ter com eles seja como for.
- O telégrafo corre mais depressa que o melhor cavalo - disse Michu - e de todos os nobres metidos na conspiração os primos da Senhora Condessa são os primeiros a ser apanhados.