O Conde de Monte Cristo - Cap. 111: Expiação Pág. 1026 / 1080

O abade arrancou a sua falsa tonsura, sacudiu a cabeça, e os seus longos cabelos negros, deixando de estar comprimidos, caíram-lhe sobre os ombros e emolduraram-lhe o rosto másculo.

- É a cara do Sr. de Monte-Cristo! - gritou Villefort, com os olhos esgazeados.

- Ainda não é essa, Sr. Procurador Régio; procure melhor e mais longe.

- Essa voz... essa voz!... Onde a ouvi pela primeira vez?

- Ouviu-a pela primeira vez em Marselha, há vinte e três anos, no dia do seu casamento com Mademoiselle de Saint-Méran. Procure nos seus arquivos.

- Não é Busoni... Não é Monte-Cristo... Meu Deus, é o inimigo oculto, implacável, mortal! Fiz qualquer coisa contra si em Marselha... Oh, como sou infeliz!

- Sim, tem razão, é isso - redarguiu o conde, cruzando os braços no peito amplo. - Procure, procure!

- Mas que lhe fiz eu?! - gritou Villefort, cujo espírito pairava já no limite em que se confundem a razão e a demência, nessa neblina que já não é sonho, mas ainda não é despertar. Que lhe fiz eu? Diga! Fale!

- Condenou-me a uma morte lenta e medonha, matou o meu pai e roubou-me o amor com a liberdade e a fortuna com o amor!

- Quem é o senhor? Quem é o senhor? Meu Deus!...

- Sou o fantasma do desventurado que o senhor sepultou nas masmorras do castelo de If. Esse fantasma, que conseguiu sair por fim da sua tumba, recebeu de Deus a máscara do conde de Monte-Cristo, e por Deus foi coberto de diamantes e ouro para que o senhor só hoje o reconhecesse.

- Ah, já te reconheço, já te reconheço! - exclamou o procurador régio. - Tu és...

- Edmond Dantès!

- Tu és Edmond Dantès! - gritou o procurador régio, agarrando o conde pelo pulso. - Então, vem! E arrastou-o pela escada, na qual Monte-Cristo o seguiu, atónito, ignorando aonde o procurador régio o levava e pressentindo alguma nova catástrofe.

- Vê! Vê, Edmond Dantès! - disse, mostrando ao conde o cadáver da mulher e o corpo do filho. - Vê! Achas que estás bem vingado?

Monte-Cristo empalideceu perante o horrível espectáculo.

Compreendeu que acabava de ultrapassar os direitos da vingança; compreendeu que já não podia dizer: «Deus é por mim e está comigo.»

Lançou-se com um sentimento de angústia inexprimível sobre o corpo do garoto, abriu-lhe os olhos, apalpou-lhe o pulso e correu com ele para o quarto de Valentine, que fechou à chave...

- O meu filho! - gritou Villefort. - Leva o cadáver do meu filho! Oh, maldição, maldição, que a morte caia sobre ti!





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069