Cheio de esperança, Edmond comeu um pouco de pão e bebeu alguns golos de água. Graças à poderosa constituição de que a natureza o dotara encontrou-se pouco depois como anteriormente.
Passou o dia e o silêncio manteve-se. Anoiteceu e o barulho não recomeçou. «É um prisioneiro», disse Edmond para consigo com indizível alegria.
Desde então a cabeça exaltou-se-lhe e a vida tornou-se-lhe violenta à força de ser activa. A noite passou sem que se ouvisse o menor ruído. Edmond não pregou olho.
Amanheceu; o carcereiro entrou com a comida. Edmond já devorara os alimentos antigos e devorou os novos escutando sem cessar, à espera de um ruído que não voltava, receando que tivesse cessado para sempre, percorrendo dez ou doze léguas na sua masmorra, sacudindo durante horas inteiras os varões de ferro do seu respiradouro, recuperando a elasticidade e o vigor dos seus membros por meio de um exercício esquecido havia muito tempo, dispondo-se enfim a retomar, corpo a corpo, o seu destino futuro, como faz, estendendo os braços e esfregando o corpo com óleo, o lutador que vai entrar na arena. Depois, nos intervalos desta actividade febril, escutava se o ruído voltava, impacientando-se com a prudência daquele prisioneiro que não adivinhava que fora distraído da sua obra de libertação por outro prisioneiro que tinha, pelo menos, tanta pressa de ser livre como ele.
Passaram-se assim três dias, setenta e duas horas mortais, contadas minuto a minuto.
Por fim, uma noite, quando o carcereiro acabava de fazer a sua última visita e Dantès colava pela centésima vez o ouvido à muralha, pareceu-lhe que um abalo imperceptível se repercutia na sua cabeça, encostada às pedras silenciosas.
Dantès recuou, para acalmar o cérebro agitado, deu algumas voltas na cela e recolocou o ouvido no mesmo sítio.
Já não havia dúvida: fazia-se qualquer coisa do outro lado. O prisioneiro reconhecera o perigo da sua manobra e optara por qualquer outra. Sem dúvida, para continuar a sua obra com mais segurança, substituíra a alavanca pelo escopro.
Animado por esta descoberta, Edmond resolveu ajudar o infatigável trabalhador. Começou por afastar a cama, atrás da qual lhe parecia decorrer a obra de libertação, e procurou com os olhos um objecto com o qual pudesse atacar a muralha, arrancar o cimento húmido, desprender finalmente uma pedra.
Não viu nada. Não tinha faca nem qualquer outro instrumento cortante. De ferro só tinha os varões e quanto a estes já se assegurara muitas vezes que estavam bem presos e não valia a pena tentar abalá-los.
Todo o seu mobiliário se compunha de uma cama, uma cadeira, uma mesa, um balde e uma bilha.