O Conde de Monte Cristo - Cap. 17: A cela do abade Pág. 134 / 1080

- Não, tinham consigo um terceiro companheiro, muito meu conhecido, que sem dúvida se lhes juntara, um alfaiate chamado Caderousse. Mas este estava já bêbedo. Espere... espere... Como não me lembrei disto? Junto da mesa onde bebiam encontrava-se um tinteiro, papel e penas...

Dantès levou a mão à testa e exclamou:

- Oh, os infames, os infames!

- Quer saber mais alguma coisa? - perguntou o abade rindo.

- Quero, claro que quero! Uma vez que o senhor aprofunda tudo, vê claro em todas as coisas, quero saber por que motivo só fui interrogado uma vez, porque não me deram juízes e como fui condenado sem julgamento.

- Oh, isso é um pouco mais grave! - exclamou o abade. - A justiça tem escaninhos sombrios e misteriosos em que é difícil penetrar.

O que fizemos até aqui relativamente aos seus dois amigos não passou de uma brincadeira de crianças. A esse respeito, terá de me dar indicações mais precisas.

- Pronto, interrogue-me, pois na verdade o senhor vê mais claro na minha vida do que eu próprio.

- Quem o interrogou? Foi o procurador régio, o substituto ou o juiz de instrução?

- Foi o substituto.

- Era novo ou velho?

- Novo: vinte e sete ou vinte e oito anos.

- Bom, ainda não corrompido, mas já ambicioso - comentou o abade.

- Quais foram as suas maneiras para consigo?

- Mais afáveis do que severas.

- Contou-lhe tudo?

- Tudo.

- E as suas maneiras mudaram no decurso do interrogatório?

- Alteraram-se apenas por um instante, quando leu a carta que me comprometia. Pareceu acabrunhado com a minha desgraça.

- Com a sua desgraça?

- Sim.

- Tem a certeza de que era a sua desgraça que o preocupava?

- Pelo menos deu-me uma grande prova da sua simpatia.

- Qual?

- Queimou a única peça que me podia comprometer.

- Qual? A denúncia?

- Não, a carta.

- Tem a certeza?

- Fê-lo diante de mim.

- Estranho... Esse homem poderia ser maior celerado do que você imagina.

- Palavra de honra que me está a assustar! - exclamou Dantès.

- Estará o mundo povoado de tigres e crocodilos?

- Está. Simplesmente os tigres e os crocodilos de dois pés são mais perigosos do que os outros.

- Continuemos, continuemos.

- Com muito gosto. Queimou a carta, diz você?

- Sim, dizendo-me: «Como vê, só existe esta prova contra si e eu destruo-a.»

- Essa conduta é demasiado sublime para ser natural.

- Parece-lhe?

- Tenho a certeza. A quem era endereçada a carta?

- Ao Sr. Noirtier, Rua Coq- Héron, n.º 13, em Paris.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069