O Conde de Monte Cristo - Cap. 24: Deslumbramento Pág. 194 / 1080

Com o auxílio da enxada, Dantès abriu entre o rochedo superior e o que lhe servia de base um canal de mina como costumam fazer os sapadores quando querem poupar ao braço do homem uma fadiga demasiado grande, e depois encheu-o de pólvora. Em seguida, desfiou o lenço, impregnou-o de pólvora e fez dele uma mecha.

Largou toco à mecha e afastou-se.

A explosão não tardou: o rochedo superior foi por momentos erguido da sua base pela força incalculável desencadeada e o rochedo interior voou em estilhas. Pela aberturazinha que Dantès praticara inicialmente fugiu toda a espécie de insectos palpitantes e uma cobra enorme, guarda daquele caminho misterioso, rolou sobre as suas volutas azuladas e desapareceu.

Dantès aproximou-se: o rochedo superior, agora sem apoio, inclinava-se para o abismo. O intrépido pesquisador contornou-o, escolheu o sítio mais vacilante, apoiou a alavanca numa das arestas e, como Sísifo, retesou-se com toda a força contra o rochedo.

Este, já abalado pela explosão, cambaleou. Dantès redobrou de esforços. Dir-se-ia um daqueles Titãs que arrancavam montanhas da sua base para guerrearem o senhor dos deuses. Por fim o rochedo cedeu, rolou, saltou, precipitou-se e desapareceu engolido pelo mar.

Deixou a descoberto um espaço circular e à vista uma argola de ferro cravada no meio de uma laje quadrada.

Dantès soltou um grito de alegria e surpresa. Nunca tão magnífico resultado coroara uma primeira tentativa.

Quis continuar, mas as pernas tremiam-lhe tanto, o coração pulsava-lhe com tanta violência e cobria-lhe os olhos uma nuvem tão ardente que foi obrigado a parar.

Mas esse momento de hesitação teve a duração do relâmpago. Edmond meteu a alavanca na argola, levantou-a vigorosamente e a laje soltou-se, abriu-se e descobriu a rampa inclinada de uma espécie de escada que mergulhava na sombra de uma gruta cada vez mais escura.

Outro ter-se-ia precipitado e soltado exclamações de alegria; Dantès deteve-se, pálido e desconfiado.

«Então, sejamos homem!», disse para consigo. «Habituados à adversidade, não nos deixemos abater por uma decepção. De contrário, teríamos sofrido para nada. O coração fraqueja quando, depois de ser dilatado para além das marcas pelo hálito tépido da esperança, reentra e se reencerra na fria realidade. Faria sonhou: o cardeal Spada não escondeu nada nesta gruta, talvez até nunca cá tenha vindo, ou, se veio, César Bórgia, o intrépido aventureiro, o infatigável e sombrio ladrão, veio cá depois dele, descobriu-lhe a pista, seguiu os mesmos sinais que eu segui, levantou esta pedra como eu levantei e, descendo primeiro do que eu, não deixou nada para mim.»





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069