- Com que então, meu caro Gaetano, você mesmo também é um bocadinho contrabandista, hem?... - observou Franz, rindo.
- Que quer Vossa Excelência, faz-se um pouco de tudo!... confessou Gaetano com um sorriso impossível de descrever. - É preciso viver...
- E você está em boas relações com as pessoas instaladas neste momento em Monte-Cristo?
- Pouco mais ou menos. Nós, marinheiros, somos como os maçãos: reconhecemo-nos por certos sinais.
- Nesse caso, parece-lhe que não teríamos nada a temer se desembarcássemos?
- Absolutamente nada. Os contrabandistas não são ladrões.
- Mas esses dois bandidos corsos... - insinuou Franz, calculando antecipadamente todas as probabilidades de perigo.
- Valha-me Deus, eles não têm culpa de ser bandidos! A culpa é das autoridades - redarguiu Gaetano.
- Como assim?
- Sem dúvida! Perseguem-nos apenas por furar uma pele!... Como se não estivesse na natureza do corso vingar-se!
- Que entende você por furar uma pele? Assassinar um homem? - inquiriu Franz, continuando as suas investigações.
- Entendo matar um inimigo - respondeu o patrão -, o que é muito diferente.
- Bom, vamos lá pedir hospitalidade aos contrabandistas e aos bandidos - decidiu o jovem. - Acha que no-la concederão?
- Sem dúvida nenhuma.
- Quantos são?
- Quatro, Excelência, e com os dois bandidos, seis.
- Óptimo, é precisamente o nosso número! Estamos portanto, no caso de esses cavalheiros mostrarem más intenções, em força igual e por consequência em condições de os dominar. Assim e pela última vez, vamos para Monte-Cristo.
- Pois sim, Excelência. Mas ainda assim permite-nos que tomemos certas precauções?
- Claro, meu caro! Seja sábio como Nestor e prudente como Ulisses. Faço mais do que permitir-lhes, exorto-os a tomarem-nas.
- Muito bem. Então, silêncio - ordenou Gaetano.
Toda a gente se calou.
Para um homem que, como Franz, encarava todas as coisas sob o seu verdadeiro aspecto a situação, sem ser perigosa, não deixava de revestir-se de certa gravidade. Encontrava-se na obscuridade mais profunda, isolado, no meio do mar, com marinheiros que não o conheciam e que não tinham nenhum motivo para lhe ser dedicados; que sabiam que trazia no cinto alguns milhares de francos e que tinham dez vezes, se não com inveja pelo menos com curiosidade, examinado as suas armas, que eram muito belas. Por outro lado ia desembarcar, escoltado apenas por esses homens, numa ilha que tinha um nome muitíssimo religioso, mas que parecia não prometer a Franz mais hospitalidade do que o Calvário a Cristo, graças aos seus contrabandistas e aos seus bandidos.