Então, o piloto imprimiu com o leme nova direcção ao barquito, que se aproximou visivelmente da ilha, a qual não tardou a encontrar-se apenas a cerca de cinquenta passos. Gaetano ferrou a vela e a embarcação deteve-se. Tudo isto foi feito no meio do maior silêncio. Aliás, desde a mudança de rota nem uma só palavra fora pronunciada a bordo.
Gaetano, que propusera a expedição, chamara a si toda a responsabilidade por ela. Os quatro marinheiros não o perdiam de vista enquanto, preparados os remos, se mantinham prontos para remar, o que, graças à obscuridade, não seria difícil. Quanto a Franz, inspeccionava as suas armas com o sangue-frio que lhe conhecemos. Tinha duas espingardas de dois tiros e uma carabina. Carregou-as, verificou-lhes a fecharia e esperou.
Entretanto, o patrão despira o gabão e a camisa e prendera as calças na cintura. Como estava descalço, não precisava de descalçar sapatos nem meias. Uma vez nesta indumentária, ou antes, liberto da sua indumentária, pôs um dedo nos lábios recomendando o mais profundo silêncio, deixou-se escorregar para o mar e nadou para a margem com tanta precaução que era impossível ouvir o menor ruído. Apenas devido ao sulco fosforescente provocado pelos seus movimentos era possível seguir-lhe o rasto. Mas em breve até esse sulco desapareceu. Era evidente que Gaetano chegara a terra.
No barquito toda a gente ficou imóvel durante meia hora, passada a qual viram reaparecer junto da margem e aproximar-se da embarcação o mesmo sulco luminoso. Ao cabo de um instante e em duas braçadas, Gaetano alcançou a embarcação.
- Então - perguntaram ao mesmo tempo Franz e os quatro marinheiros.
- São contrabandistas espanhóis. Têm apenas consigo dois bandidos corsos.
- E que fazem esses dois bandidos corsos com contrabandistas espanhóis?
- Meu Deus, Excelência - respondeu Gaetano em tom de profunda caridade cristã -, as pessoas devem ajudar-se umas às outras! Muitas vezes, os bandidos encontram-se um bocadinho apertados em terra pelos gendarmes ou pelos carabineiros. Então, procuram uma embarcação e encontram nessa embarcação bons rapazes como nós a quem pedem hospitalidade na sua casa flutuante. Quem recusaria auxílio a um pobre diabo perseguido? Recebemo-lo e para maior segurança afastamo-nos para o largo.
Não nos custa nada e salva a vida, ou pelo menos a liberdade a um dos nossos semelhantes que na primeira oportunidade retribui o favor que lhe prestámos indicando-nos um bom local onde possamos desembarcar as nossas mercadorias sem sermos incomodados pelos curiosos.