O Conde de Monte Cristo - Cap. 31: Itália - Simbad, o marinheiro Pág. 262 / 1080

Então, o piloto imprimiu com o leme nova direcção ao barquito, que se aproximou visivelmente da ilha, a qual não tardou a encontrar-se apenas a cerca de cinquenta passos. Gaetano ferrou a vela e a embarcação deteve-se. Tudo isto foi feito no meio do maior silêncio. Aliás, desde a mudança de rota nem uma só palavra fora pronunciada a bordo.

Gaetano, que propusera a expedição, chamara a si toda a responsabilidade por ela. Os quatro marinheiros não o perdiam de vista enquanto, preparados os remos, se mantinham prontos para remar, o que, graças à obscuridade, não seria difícil. Quanto a Franz, inspeccionava as suas armas com o sangue-frio que lhe conhecemos. Tinha duas espingardas de dois tiros e uma carabina. Carregou-as, verificou-lhes a fecharia e esperou.

Entretanto, o patrão despira o gabão e a camisa e prendera as calças na cintura. Como estava descalço, não precisava de descalçar sapatos nem meias. Uma vez nesta indumentária, ou antes, liberto da sua indumentária, pôs um dedo nos lábios recomendando o mais profundo silêncio, deixou-se escorregar para o mar e nadou para a margem com tanta precaução que era impossível ouvir o menor ruído. Apenas devido ao sulco fosforescente provocado pelos seus movimentos era possível seguir-lhe o rasto. Mas em breve até esse sulco desapareceu. Era evidente que Gaetano chegara a terra.

No barquito toda a gente ficou imóvel durante meia hora, passada a qual viram reaparecer junto da margem e aproximar-se da embarcação o mesmo sulco luminoso. Ao cabo de um instante e em duas braçadas, Gaetano alcançou a embarcação.

- Então - perguntaram ao mesmo tempo Franz e os quatro marinheiros.

- São contrabandistas espanhóis. Têm apenas consigo dois bandidos corsos.

- E que fazem esses dois bandidos corsos com contrabandistas espanhóis?

- Meu Deus, Excelência - respondeu Gaetano em tom de profunda caridade cristã -, as pessoas devem ajudar-se umas às outras! Muitas vezes, os bandidos encontram-se um bocadinho apertados em terra pelos gendarmes ou pelos carabineiros. Então, procuram uma embarcação e encontram nessa embarcação bons rapazes como nós a quem pedem hospitalidade na sua casa flutuante. Quem recusaria auxílio a um pobre diabo perseguido? Recebemo-lo e para maior segurança afastamo-nos para o largo.

Não nos custa nada e salva a vida, ou pelo menos a liberdade a um dos nossos semelhantes que na primeira oportunidade retribui o favor que lhe prestámos indicando-nos um bom local onde possamos desembarcar as nossas mercadorias sem sermos incomodados pelos curiosos.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069