O Conde de Monte Cristo - Cap. 33: Bandidos Romanos Pág. 295 / 1080

»O que pediam era justo. Por isso, o chefe fez um sinal com a cabeça, anunciando que aquiescia ao pedido. Meteram-se todos os nomes num chapéu, o de Carlini como os dos outros, e o mais novo da quadrilha tirou da urna improvisada um boletim.

»O boletim tinha o nome de Diavolaccio.

»Era o mesmo que propusera a Carlini o brinde à saúde do chefe e a quem Carlini respondera quebrando-lhe o copo na cara.

»Um grande ferimento aberto da têmpora à boca deixava correr o sangue aos borbotões.

»Ao ver-se assim favorecido pela sorte, Diavolaccio soltou uma gargalhada.

»- Capitão - disse -, há pouco, Carlini não quis beber à sua saúde. Convide-o agora a beber à minha, talvez seja mais condescendente consigo do que comigo.

»Todos esperavam uma explosão da parte de Carlini; mas com grande surpresa de todos, pegou num copo e numa garrafa, encheu o copo e disse com voz perfeitamente calma:

»- À tua saúde, Diavolaccio.

»E bebeu o conteúdo do copo sem que a mão lhe tremesse. Depois sentou-se ao pé da fogueira e pediu:

»- A minha parte da ceia! A corrida que acabo de fazer abriu-me o apetite.

»- Viva Carlini! - gritaram os bandidos.

»- Sim, senhor, isto é o que se chama levar as coisas como companheiro!

»E todos refizeram o círculo à volta da fogueira, enquanto Diavolaccio se afastava.

»Carlini comia e bebia como se nada se tivesse passado.

»Os bandidos olhavam-no com espanto, sem compreenderem aquela impassibilidade, quando ouviram passos pesados ressoarem no chão atrás deles.

»Viraram-se e viram Diavolaccio com a rapariga nos braços.

»Ela tinha a cabeça inclinada para trás e os seus longos cabelos pendiam até ao chão.

»À medida que entravam no círculo da luz projectada pela fogueira, notava-se cada vez mais a palidez da jovem e do bandido.

»Aquela aparição tinha qualquer coisa de tão estranho e solene que todos se levantaram, excepto Carlini, que ficou sentado e continuou a comer e beber como se nada se passasse à sua volta.

»Diavolaccio continuava a avançar no meio do mais profundo silêncio, e depositou Rita aos pés do capitão.

»Então, toda a gente verificou a causa da palidez da jovem e do bandido: Rita tinha uma faca cravada até ao cabo por baixo do seio esquerdo.

»Todos os olhos se viraram para Carlini. A bainha que trazia à cintura estava vazia.

»- Ah, ah! - exclamou o chefe. - Compreendo agora por que motivo Carlini ficou para trás.

»Toda a natureza selvagem está apta a apreciar uma acção forte. Por isso, embora talvez nenhum dos bandidos fosse capaz de fazer o que fizera Carlini, todos compreenderam o seu acto.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069