O Conde de Monte Cristo - Cap. 36: O Carnaval de Roma Pág. 343 / 1080

- Olhe, aquela caleça que vai ali, carregada de camponesas romanas.

- Não.

- Pois estou certo de que são mulheres encantadoras.

- Que azar estar mascarado, meu caro Albert - disse Franz. - Era a altura de se desforrar das suas decepções amorosas!

- Oh, espero que o Carnaval não termine sem me proporcionar qualquer compensação! - exclamou Albert, meio a rir, meio a sério.

Apesar desta esperança, o dia passou-se todo sem outra aventura além do reencontro, duas ou três vezes renovado, com a caleça das camponesas romanas. Num desses encontros, como que por acaso, ou por cálculo, a máscara de Albert soltou-se.

Ao mesmo tempo, ele pegou no resto das flores e atirou-as para a caleça.

Sem dúvida uma das mulheres encantadoras que Albert adivinhava sob o traje garrido de camponesa ficou impressionada pela galantaria, pois por sua vez, quando a carruagem dos dois amigos voltou a passar, atirou-lhe um ramo de violetas.

Albert precipitou-se para o ramo. Como Franz não tinha nenhum motivo para crer que fora atirado em sua intenção, deixou Albert apanhá-lo. Albert pô-lo vitoriosamente na lapela e a carruagem continuou a sua corrida triunfal.

- Pronto, aí está um princípio de aventura! - disse-lhe Franz.

- Ria à vontade - respondeu Albert -, mas na verdade estou convencido que sim. Por isso, não largo mais este ramo.

- Acredito! - declarou Franz, rindo. - É um sinal de reconhecimento.

O gracejo, aliás, depressa adquiriu o carácter de realidade, pois quando, sempre levados pelo cortejo, Franz e Albert se cruzaram de novo com a carruagem das contadine a que atirara o ramo a Albert bateu as mãos ao ver-lhe na lapela.

- Bravo, meu caro, bravo - disse-lhe Franz. - Corre tudo às mil maravilhas! Quer que o deixe! talvez seja mais agradável para si estar só...

- Não - respondeu Albert. - Não precipitemos nada. Não quero deixar-me apanhar como um idiota, a uma primeira demonstração, num encontro debaixo do relógio, como dizemos nos bailes da ópera. Se a bela camponesa quiser ir mais longe, encontrá-la-emos amanhã, ou antes, encontrar-nos-á ela. Então, dar-me-á sinal da sua existência e verei o que devo fazer.

- Na verdade, meu caro Albert - observou Franz -, você é sábio como Nestor e prudente como Ulisses. E se a sua Circe conseguir transformá-lo num animal qualquer, é porque será muito hábil ou muito poderosa.

Albert tinha razão. A bela desconhecida resolvera, sem dúvida, não levar mais longe o namoro daquele dia; porque embora os jovens dessem ainda várias voltas, não tornaram a ver a caleça que procuravam com a vista: desaparecera decerto por uma das ruas adjacentes.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069