O Conde de Monte Cristo - Cap. 36: O Carnaval de Roma Pág. 342 / 1080

Imagine-se a grande e bela rua do Corso, ladeada de uma ponta à outra de palácios de quatro ou cinco andares, com todas as suas varandas guarnecidas de tapeçarias, com todas as suas janelas decoradas; nessas varandas e nessas janelas trezentos mil espectadores, romanos, italianos e estrangeiros vindos das quatro partidas do mundo; todas as aristocracias reunidas: de nascimento, de dinheiro, de espírito; mulheres encantadoras que, sofrendo elas próprias a influência do espectáculo, se inclinam sobre as varandas, se debruçam fora das janelas e fazem chover sobre as carruagens que passam uma saraivada de confetti que lhes retribuem com flores; a atmosfera toda carregada de confeitos que descem e de flores que sobem; depois, nas próprias ruas, uma multidão alegre, incessante, louca, metida em trajes insensatos: couves gigantescas que se passeiam majestosamente, cabeças de búfalos que mugem encimando corpos de homens, cães que parecem caminhar nas patas traseiras, etc.; no meio de tudo isto uma máscara que se levanta e, como na tentação de Santo António idealizada por Callot, alguma Astarte que mostra um rosto encantador, que se quer seguir, mas do qual se é separado por uma espécie de demónios idênticos aos que se vêem nos sonhos, e ter-se-á uma fraca ideia do que é o Carnaval em Roma.

A segunda volta, o conde mandou parar a carruagem e pediu aos companheiros licença para se separar deles, deixando a carruagem à sua disposição. Franz levantou os olhos: estavam diante do Palácio Rospoli, e à janela do meio, aquela que se encontrava forrada de damasco branco com uma cruz vermelha, estava um dominó azul sob o qual a imaginação de Franz descobriu sem dificuldade a bela grega do Teatro Argentina.

- Meus senhores - disse o conde ao apear-se -, quando estiverem cansados de ser actores e quiserem voltar a ser espectadores, sabem que têm um lugar nas minhas janelas. Entretanto, disponham do meu cocheiro, da minha carruagem e dos meus criados.

Esquecemo-nos de dizer que o cocheiro do conde estava gravemente vestido com uma pele de urso negro, exactamente igual à de Odry em O Urso e o Paxá, e que os dois lacaios que se mantinham de pé atrás da caleça envergavam trajes de macaco verde, perfeitamente adaptados à sua estatura, e usavam máscaras de molas com as quais faziam caretas a quem passava.

Franz agradeceu ao conde a sua amável oferta. Quanto a Albert, todo ele era galanteios com uma carruagem cheia de camponesas romanas, parada, como a do conde, para um desses descansos tão vulgares nos desfiles e que ele cobria de flores.

Infelizmente para ele, o cortejo voltou a por-se em andamento, e, quando ele descia para a Praça del Popolo, a carruagem que lhe atraíra a atenção subia para o Palácio de Veneza.

- Ah, meu caro, não viu?... perguntou a Franz.

- O quê?





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069