Imagine-se a grande e bela rua do Corso, ladeada de uma ponta à outra de palácios de quatro ou cinco andares, com todas as suas varandas guarnecidas de tapeçarias, com todas as suas janelas decoradas; nessas varandas e nessas janelas trezentos mil espectadores, romanos, italianos e estrangeiros vindos das quatro partidas do mundo; todas as aristocracias reunidas: de nascimento, de dinheiro, de espírito; mulheres encantadoras que, sofrendo elas próprias a influência do espectáculo, se inclinam sobre as varandas, se debruçam fora das janelas e fazem chover sobre as carruagens que passam uma saraivada de confetti que lhes retribuem com flores; a atmosfera toda carregada de confeitos que descem e de flores que sobem; depois, nas próprias ruas, uma multidão alegre, incessante, louca, metida em trajes insensatos: couves gigantescas que se passeiam majestosamente, cabeças de búfalos que mugem encimando corpos de homens, cães que parecem caminhar nas patas traseiras, etc.; no meio de tudo isto uma máscara que se levanta e, como na tentação de Santo António idealizada por Callot, alguma Astarte que mostra um rosto encantador, que se quer seguir, mas do qual se é separado por uma espécie de demónios idênticos aos que se vêem nos sonhos, e ter-se-á uma fraca ideia do que é o Carnaval em Roma.
A segunda volta, o conde mandou parar a carruagem e pediu aos companheiros licença para se separar deles, deixando a carruagem à sua disposição. Franz levantou os olhos: estavam diante do Palácio Rospoli, e à janela do meio, aquela que se encontrava forrada de damasco branco com uma cruz vermelha, estava um dominó azul sob o qual a imaginação de Franz descobriu sem dificuldade a bela grega do Teatro Argentina.
- Meus senhores - disse o conde ao apear-se -, quando estiverem cansados de ser actores e quiserem voltar a ser espectadores, sabem que têm um lugar nas minhas janelas. Entretanto, disponham do meu cocheiro, da minha carruagem e dos meus criados.
Esquecemo-nos de dizer que o cocheiro do conde estava gravemente vestido com uma pele de urso negro, exactamente igual à de Odry em O Urso e o Paxá, e que os dois lacaios que se mantinham de pé atrás da caleça envergavam trajes de macaco verde, perfeitamente adaptados à sua estatura, e usavam máscaras de molas com as quais faziam caretas a quem passava.
Franz agradeceu ao conde a sua amável oferta. Quanto a Albert, todo ele era galanteios com uma carruagem cheia de camponesas romanas, parada, como a do conde, para um desses descansos tão vulgares nos desfiles e que ele cobria de flores.
Infelizmente para ele, o cortejo voltou a por-se em andamento, e, quando ele descia para a Praça del Popolo, a carruagem que lhe atraíra a atenção subia para o Palácio de Veneza.
- Ah, meu caro, não viu?... perguntou a Franz.
- O quê?