O Conde de Monte Cristo - Cap. 36: O Carnaval de Roma Pág. 347 / 1080

- Duzentos ou trezentos escudos romanos...

- Diga dois ou três mil.

- Demónio!

- É a sua ilha que lhe dá tão bom rendimento?

- A sua ilha? Não lhe rende nem um chavo.

- Nesse caso, porque a comprou?

- Por capricho.

- Trata-se portanto de um original?

- Efectivamente - declarou Albert -, pareceu-me bastante excêntrico. Se morasse em Paris e frequentasse os nossos espectáculos, dir-lhe-ia, meu caro, que se tratava de um brincalhão de mau gosto cheio de pose ou de um pobre diabo que a literatura não soube aproveitar. Na realidade, teve esta manhã duas ou três saídas dignas de Didier ou de Antony.

Neste momento entrou uma visita e, segundo o uso, Franz cedeu o seu lugar ao recém-chegado. Esta circunstância, além da troca de lugares, teve ainda como resultado mudar o tema da conversa. Uma hora mais tarde, os dois amigos regressaram ao hotel.

Mestre Pastrini ocupara-se já das suas máscaras para o dia seguinte e prometeu-lhes que ficariam satisfeitos com a sua inteligente actividade.

Com efeito, no dia seguinte às nove horas entrava no quarto de Franz com um alfaiate carregado com oito ou dez trajes de camponês romano. Os dois amigos escolheram dois iguais, mais ou menos à medida do seu corpo, e encarregaram o hoteleiro de lhes mandar pregar uns vinte metros de fitas em cada chapéu e de lhes arranjar dois desses encantadores lenços de seda de barras transversais e cores vivas com que os homens do povo têm o hábito, nos dias de festa, de apertar a cintura.

Albert tinha pressa de ver como lhe ficaria o seu novo traje, o qual se compunha de uma jaqueta e de uns calções de veludo azul, meias bordadas, sapatos de fivela e colete de seda.

Aliás, Albert só podia ser beneficiado com este traje pitoresco. E quando cingiu com aquela espécie de faixa a cintura elegante, e o chapéu, ligeiramente inclinado para um lado, lhe deixou cair sobre o ombro ondas de fitas, Franz foi obrigado a confessar que o traje representa quase sempre muito na superioridade física que concedemos a certos povos. Os turcos, dantes tão pitorescos com as suas longas túnicas de cores vivas, não são agora ridículos com as suas sobrecasacas azuis abotoadas e os seus barretes gregos que lhes dão o ar de garrafas de vinho de cápsula vermelha? Franz felicitou Albert, que, de resto, de pé diante do espelho, sorria com um ar de satisfação que não tinha nada de equívoco.

Estavam nisto quando o conde de Monte-Cristo entrou.

- Meus senhores - disse-lhes -, como por mais agradável que seja um companheiro de prazer a liberdade é ainda mais agradável, venho dizer-lhes que hoje e nos dias seguintes deixo à sua disposição a carruagem de que se serviram ontem.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069