- Conhecem-no, portanto?
- Sim e não.
- Como assim?
- É uma longa história.
- Que me contará?
- Causar-lhe-ia demasiado medo.
- Mais uma razão.
- Espere ao menos que a história tenha um desenlace.
- Seja, gosto das histórias completas. Entretanto, como entraram em contacto? Quem os apresentou a ele?
- Ninguém. Foi ele, pelo contrário, que se apresentou a nós.
- Quando?
- Ontem à noite, depois de a deixar.
- Por intermédio de quem?
- Oh, meu Deus, pelo intermédio prosaiquíssimo do nosso hoteleiro!
- Está portanto hospedado no Hotel de Espanha como os senhores?
- Não só no mesmo hotel, mas também no mesmo andar.
- Como se chama? Porque sem dúvida sabem o seu nome...
- Perfeitamente. Conde de Monte-Cristo.
- Que nome é esse? Não é um nome de família.
- Não, é o nome de uma ilha que ele comprou.
- E é conde?
- Conde toscano.
- Enfim, engoliremos isso como os outros - declarou a condessa, que pertencia a uma das mais antigas famílias dos arredores de Veneza. - Mas que espécie de homem é ele?
- Pergunte ao visconde de Morcerf
- Ouviu, senhor? Remetem-me para si - disse a condessa.
- Seríamos demasiado exigentes se não o achássemos encantador, minha senhora - respondeu Albert. - Um amigo de dez anos não faria por nós mais do que ele tem feito, e com uma graça, uma delicadeza, uma cortesia que indicam realmente tratar-se de um homem de sociedade.
- Bom - disse a condessa, rindo -, verão que o meu vampiro acaba por ser muito simplesmente algum novo rico que quer que lhe perdoem os seus milhões e se meteu na pele de Lara para não o confundirem com o Sr. de Rothschild. E ela, viram-na?
- Ela, quem? - perguntou Franz, sorrindo.
- A bela grega de ontem.
- Não. Ouvimos, se me não engano, o som da sua guzla, mas ela conservou-se absolutamente invisível.
- Isto é, quando diz invisível, meu caro Franz - observou Albert -, é apenas para adensar o mistério, não é verdade? Quem acha que era o dominó azul que estava à janela forrada de damasco branco?
- E onde estava essa janela forrada de damasco branco? - perguntou a condessa.
- No Palácio Rospoli.
- O conde tinha portanto três janelas no palácio Rospoli?
- Tinha. Passou na rua do Corso?
- Sem dúvida.
- Não notou duas janelas forradas de damasco amarelo e uma janela forrada de damasco branco com uma cruz vermelha? Essas três janelas eram do conde.
- Ah, sim?... Mas então esse homem é um nababo! Sabem quanto custam três janelas como essas para os oito dias de Carnaval e no Palácio Rospoli, isto é, na melhor situação do Corso?