O Conde de Monte Cristo - Cap. 39: Os convivas Pág. 379 / 1080

- Sossegue, continuamos a cambalear, mas nunca caímos, e começo a crer que vamos muito simplesmente a caminho da inamovibilidade, sem contar que os negócios da Península acabarão por nos consolidar por completo.

- Ah, sim, é verdade, vão expulsar D. Carlos de Espanha!

- Não, caríssimo, não confundamos as coisas. Levamo-lo apenas para o outro lado da fronteira de França e oferecemos-lhe uma hospitalidade real em Burges.

- Em Burges?

- Sim, e não tem de que se queixar, que diabo! Burges foi a capital de Carlos VII. Como, não sabia? Em Paris toda a gente sabe isso desde ontem, e anteontem já a coisa transpirara na Bolsa, pois o Sr. Danglars (não faço a mais pequena ideia por que meio esse homem sabe as notícias ao mesmo tempo que nós), pois o Sr. Danglars jogou na alta e ganhou um milhão.

- E você uma nova condecoração, ao que parece, pois vejo-lhe mais uma fita, azul, ao peito.

- Ora, mandaram-me o crachá de Carlos III - respondeu negligentemente Debray.

- Vamos, não arme em indiferente e confesse que teve prazer em a receber.

- Reconheço que sim. Como complemento de toilette, um crachá fica bem numa casaca preta abotoada; é elegante.

- E - acrescentou Morcerf sorrindo - dá um ar de Príncipe de Gales ou de duque de Reichstadt

- Aqui tem porque me vê tão cedo, caríssimo.

- Porque tem o crachá de Carlos III e queria dar-me essa boa notícia?

- Não, porque passei a noite a expedir cartas: vinte e cinco despachos diplomáticos. Regressei a casa de manhã, ao romper do dia, e quis dormir, mas começou-me a doer a cabeça e levantei-me para montar a cavalo uma hora. No Bosque de Bolonha o aborrecimento e a fome apoderaram-se de mim, dois inimigos que raramente andam juntos, mas que no entanto se aliaram contra mim, uma espécie de aliança carlo-republicana.

Lembrei-me então de que havia banquete em sua casa, esta manhã e cá estou: tenho fome, alimente-me; aborreço-me, divirta-me.

- É o meu dever de anfitrião, caro amigo - declarou Albert, tocando para chamar o criado, enquanto Lucien fazia saltar com a ponta do pingalim de castão de ouro, com uma turquesa incrustada, os jornais desdobrados. - Entretanto, meu caro Lucien, aqui tem charutos de contrabando, claro. Convido-o a saboreá-los e a convidar o seu ministro a vender-nos uns assim, em vez dessa espécie de folhas de nogueira que condena os bons cidadãos a fumar.

- Nessa não caio eu! Desde o momento que lhes viessem do Governo, não quereriam mais e achá-los-iam execráveis. Aliás, isso não é da conta do Interior, é da conta das Finanças. Dirija-se ao Sr. Humann, Secção de Impostos Indirectos, corredor A, n.º 26.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069