O Conde de Monte Cristo - Cap. 39: Os convivas Pág. 381 / 1080

- Parece-me, Albert, que você adoptou por sistema, esta manhã, alimentar-me de fumo.

- Veja que é ainda o que melhor entretém o estômago, concorde. Mas olhe, acabo precisamente de ouvir a voz de Beauchamp na antecâmara. E como, decerto, não tardarão a discutir, esperará com mais paciência.

- Discutir a propósito de quê?

- A propósito dos jornais.

- Oh, caro amigo - disse Lucien com soberano desprezo - mas eu leio os jornais!

- Mais uma razão para discutirem ainda mais.

- O Sr. Beauchamp! - anunciou o criado.

- Entre, entre! Que pena terrível! - disse Albert, levantando-se e indo ao encontro do rapaz. - Olhe, aqui tem Debray, que o detesta sem o ler, pelo menos segundo diz.

- E tem toda a razão - redarguiu Beauchamp. - É como eu, critico-o sem saber o que ele faz. Bons dias, comendador.

- Ah, já sabe disso?! - respondeu o secretário particular, trocando com o jornalista um aperto de mão e um sorriso.

- Pois claro! - volveu-lhe Beauchamp

- E que dizem por ai a tal respeito?

- Por ai, onde? O que não falta são curiosos neste ano da graça de 1838.

- Ora, nos meios crítico-políticos de que você é um dos expoentes.

- Diz-se que é justíssimo e que você semeou suficiente vermelho para que nascesse um bocadinho de azul.

- Vamos, vamos, nada mal - disse Lucien. - Porque não é dos nossos, meu caro Beauchamp? Com o espírito que possui, faria carreira em três ou quatro anos.

- Por isso só espero uma coisa para seguir o seu conselho: um ministério que se aguente seis meses. Agora, apenas uma palavrinha, meu caro Albert, para deixar respirar o pobre Lucien. Almoçamos ou jantamos? Tenho de ir à Câmara. Como vêem, nem tudo são rosas na nossa profissão.

- Almoçaremos apenas. Esperamos unicamente mais duas pessoas e sentar-nos-emos à mesa assim que chegarem.

- Que espécie de pessoas espera você para almoçar? - perguntou Beauchamp.

- Um gentil-homem e um diplomata - respondeu Albert

- Então, é caso para termos de esperar duas horinhas pelo gentil-homem e duas horonas pelo diplomata. Voltarei à sobremesa. Guardem-me morangos café e charutos. Comerei uma costeleta na Câmara.

- Não vale a pena, Beauchamp, porque ainda que o gentil homem fosse um Montmorency e o diplomata um Metternich, almoçaremos às dez e meia precisas.

Entretanto, faça como Debray, saboreie o meu xerez e os meus biscoitos.

- Pronto, seja, fico. Tenho absoluta necessidade de me distrair esta manhã.

- Bom, aí está você como Debray! No entanto, parece-me que quando o ministério está triste a oposição deve estar alegre.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069