O Conde de Monte Cristo - Cap. 57: O campo de Luzerna Pág. 561 / 1080

- E como fazer semelhante proposta, sobretudo a uma mulher que não se cansa de salientar à boca cheia o seu desinteresse? - redarguiu Valentine.

- Valentine, o meu amor sempre foi para mim uma coisa sagrada, e como toda a coisa sagrada cobri-o com o véu do meu respeito e encerrei-o no meu coração. Ninguém no mundo, nem mesmo aminha irmã, suspeita da existência deste amor, que não confiei a quem quer que seja. Valentine, permite-me que fale deste amor a um amigo?

Valentine estremeceu.

- A um amigo?... - repetiu. - Oh, meu Deus, Maximilien, tremo só de o ouvir falar assim! A um amigo?... E quem é esse amigo?

- Escute, Valentine: nunca sentiu por ninguém uma dessas simpatias irresistíveis que fazem com que, embora vendo essa pessoa pela primeira vez, julgue conhecê-la há muito tempo, a ponto de perguntar a si própria onde e quando a viu, de forma que, na impossibilidade de se recordar, quer do lugar quer do tempo, acabe por se convencer ter sido num mundo anterior ao nosso e que tal simpatia não passa de uma recordação que desperta?

- Já.

- Pois aí tem o que senti a primeira vez que vi aquele homem extraordinário.

- Um homem extraordinário?...

- Sim.

- Que conhece há muito tempo?

- Apenas há oito ou dez dias.

- E chama seu amigo a um homem que conhece há oito ou dez dias? Oh, Maximilien, julgava-o mais avaro do belo nome de amigo!

- Logicamente tem razão, Valentine. Mas diga o que disser, nada me fará mudar de opinião acerca deste sentimento instintivo. Creio que esse homem estará envolvido em tudo o que me acontecer de bom no futuro, futuro que às vezes o seu olhar profundo parece conhecer e a sua mão poderosa dirigir.

- Trata-se portanto de um adivinho? - perguntou, sorrindo, Valentine.

- Palavra que muitas vezes me sinto tentado a crer que adivinha... o bem, sobretudo - respondeu Maximilien

- Oh, apresente-me esse homem, Maximilien! - pediu Valentine, tristemente. - Quero que me diga se serei amada o suficiente para me sentir recompensada de tudo o que tenho sofrido.

- Pobre amiga! Mas a Valentine conhece-o!

- Eu?

- Sim. é aquele que salvou a vida à sua madrasta e ao filho.

- O conde de Monte-Cristo?

- O próprio.

- Oh, esse nunca poderá ser meu amigo, pois é-o demasiado da minha madrasta! - exclamou Valentine.

- O conde, amigo da sua madrasta, Valentine? O meu instinto não se enganaria a esse ponto. Estou certo de que está enganada.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069