O Conde de Monte Cristo - Cap. 8: O Castelo de If Pág. 65 / 1080

Foi por estar constantemente a oferecer um milhão ao governador, se o pusesse em liberdade, que o cérebro do abade que esteve nesta cela antes do senhor se avariou.

- E há quanto tempo deixou esta cela? - Dois anos.

- Puseram-no em liberdade? - Não, meteram-no numa masmorra.

- Escuta - disse Dantès. - Não sou um abade nem sou um louco. Talvez o venha a ser, mas infelizmente, neste momento, ainda estou em meu perfeito juízo. Vou fazer-te outra proposta.

- Qual?

- Não te oferecerei um milhão, porque não to poderia dar; mas oferecer-te-ei cem escudos se quiseres, na primeira vez que fores a Marselha, descer até aos Catalães e entregar uma carta a uma rapariga chamada Mercédès. Nem sequer uma carta, apenas duas linhas.

- Se levasse essas duas linhas e fosse descoberto, perderia o meu lugar, que é de mil libras por ano, sem contar com os extraordinários e com a alimentação. Como vê, seria um grande imbecil se me arriscasse a perder mil libras para ganhar trezentas.

- Nesse caso, escuta e toma bem nota disto - disse Dantès. - Se recusas levar duas linhas a Mercédès ou pelo menos preveni-la de que estou aqui, um dia esperar-te-ei escondido atrás da minha porta e quando fores a entrar quebrar-te-ei a cabeça com este banco.

- Ameaças!... - exclamou o carcereiro, dando um passo atrás e pondo-se na defensiva. - Decididamente, não está bom da cabeça.

O abade começou como o senhor e dentro de três dias o senhor estará doido varrido como ele. Felizmente não faltam masmorras no Castelo de If.

Dantès pegou no banco e fê-lo girar à volta da cabeça.

- Está bem, está bem! - disse o carcereiro. - Pronto, uma vez que insiste, vou prevenir o governador.

- Depressa! - redarguiu Dantès, voltando a pousar o banco no chão e sentando-se nele, de cabeça baixa e olhos esgazeados, como se realmente tivesse enlouquecido.

O carcereiro saiu e regressou pouco depois com quatro soldados e um cabo.

- Por ordem do governador - disse -, desçam o prisioneiro para o andar por baixo deste.

- Para as masmorras, então - observou o cabo.

- Sim, para as masmorras. Devem pôr-se os loucos ao pé dos loucos.

Os quatro soldados agarraram Dantès, que caiu numa espécie de atonia e os acompanhou sem resistência.

Fizeram-no descer quinze degraus e abriram a porta de uma masmorra na qual entrou murmurando:

- Tem razão, devem pôr-se os loucos ao pé dos loucos.

A porta voltou a fechar-se e Dantès caminhou em frente com as mãos estendidas até tocar na parede. Então, sentou-se num canto e ficou imóvel, enquanto os seus olhos se habituavam pouco a pouco à obscuridade e começavam a distinguir os objetos.

O carcereiro tinha razão: faltava muito pouco para que Dantès enlouquecesse.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069