O Conde de Monte Cristo - Cap. 72: A Sra. de Saint-Méran Pág. 678 / 1080

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- Outra vez! Sempre!... Repito-lhe que vou morrer, ouviu? Pois antes de morrer quero ver o seu futuro genro; quero ordenar-lhe que faça a minha neta feliz; quero ler-lhe nos olhos se tenciona obedecer-me; quero conhecê-lo, enfim! - exclamou a avó com uma expressão aterradora. - E isto para o vir procurar do fundo da minha sepultura se não se portar como deve ser, se não for como tem de ser!

- Minha senhora - redarguiu Villefort -, deve afastar de si essas ideias exaltadas, que raiam quase a loucura. Os mortos, uma vez deitados no seu túmulo, aí dormem eternamente.

- Sim, sim, minha boa avozinha, sossega! - secundou-o Valentine.

- E eu, senhor, digo-lhe que as coisas não se passam nada assim, como julga. Esta noite dormi um sono terrível; de certo modo, via-me a mim própria a dormir, como se a minha alma já pairasse sobre o meu corpo. Os meus olhos, que me esforçava por abrir, fechavam-se, mal-grado meu. E no entanto sei muito bem que isto lhes parece impossível, sobretudo ao senhor... Pois bem, de olhos fechados vi, exactamente no sítio onde o senhor está, vinda desse canto onde há uma porta que dá para o quarto de vestir da Sr.ª de Villefort, vi entrar sem ruído uma forma branca...

Valentine soltou um grito.

- Era a febre que a agitava, minha senhora - disse Villefort.

- Duvide se quiser, mas tenho a certeza do que digo: vi uma forma branca. E como se Deus receasse que recusasse o testemunho de um só dos meus sentidos, ouvi mexer no meu copo... olhe, olhe, neste mesmo que está aqui, em cima da mesa!

- Oh, avozinha, era um sonho!...

- Era tão pouco um sonho que estendi a mão para a campainha e, quando fiz este gesto, a sombra desapareceu. A criada de quarto entrou então com uma luz. Os fantasmas só se mostram àqueles que os devem ver: era a alma do meu marido. Pois bem, se a alma do meu marido volta para me chamar, porque não há-de a minha alma voltar para defender a minha neta? O parentesco é ainda mais directo, parece-me.

- Então, minha senhora, não dê largas a essas ideias lúgubres -aconselhou Villefort, agitado, a seu pesar, até ao mais íntimo de si mesmo. - Viverá connosco, viverá durante muito tempo feliz, amada, respeitada, e fá-la-emos esquecer...

- Nunca, nunca, nunca! - ripostou a marquesa. - Quando regressa o Sr. de Epinay?

- Esperamo-lo de um momento para o outro.

- Está bem. Assim que ele chegar, avisem-me. Despachemo-nos, despachemo-nos! Depois, quero também falar com um notário, para me assegurar de que todos os nossos bens revertem a favor de Valentine.

- Então, avó, quer que eu morra também? - murmurou Valentine, pousando os lábios na testa escaldante da marquesa.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069