O Conde de Monte Cristo - Cap. 95: O pai e a filha Pág. 900 / 1080

E quando não tivesse esse talento de que o seu sorriso me prova que desconfia, não me restaria ainda este profundo amor pela independência que me ocupará sempre o lugar de todos os tesouros e que domina em mim até o instinto da conservação?

»Não, não é por mim que fico triste, pois eu saberei sempre tirar-me de apuros; os meus livros, os meus lápis, o meu piano, são tudo coisas que não custam caro e que poderei sempre proporcionar-me, nunca me faltarão. Pensa talvez que me aflijo pela Sr.ª Danglars?... Desiluda-se também. Ou eu me engano muito ou a minha mãe tomou todas as precauções contra a catástrofe que o ameaça e que passará sem a atingir.

»Ela colocou-se ao abrigo dessa contingência, creio, e não foi velando por mim que descurou as suas preocupações de fortuna. Porque, graças a Deus, deixou-me toda a minha independência a pretexto de que eu amava a minha liberdade.

»Oh, não, senhor, desde a infância que vejo acontecerem muitas coisas à minha volta! E sempre as compreendi tão bem que a infelicidade nunca me causou mais impressão do que devia causar. Desde que me conheço que não sou amada por ninguém. Claro que isso me levou muito naturalmente a não amar ninguém. Tanto melhor! Agora já tem a minha profissão de fé.

- Então - disse Danglars, pálido de uma cólera que se não devia nada ao amor paterno ofendido -, então a menina persiste em querer consumar a minha ruína?

- A sua ruína! Eu consumar a sua ruína! - exclamou Eugénie. - Que quer dizer? Não o compreendo.

- Tanto melhor, pois isso deixa-me um raio de esperança. Escuta...

- Estou a escutar - respondeu Eugénie, olhando tão fixamente o pai que este teve de fazer um esforço para não baixar os olhos diante do olhar poderoso da filha.

- O Sr. Cavalcanti casa contigo - continuou Danglars - e casando contigo traz três milhões de dote, que coloca no meu banco.

- Ah, muito bem! - exclamou Eugénie com soberano desprezo e alisando as luvas uma sobre a outra.

- Julgas que lhe ficarei com esses três milhões? - perguntou Danglars. - De modo nenhum. Esses três milhões destinam-se a produzir pelo menos dez. Obtive com um banqueiro meu colega a concessão de um caminho-de-ferro, a única indústria que nos nossos dias oferece as probabilidades fabulosas de êxito imediato que noutros tempos Law atribuiu, para levar à certa os pobres Parisienses, esses eternos anjinhos da especulação, a um Mississipi fantástico. Pelos meus cálculos, deve-se possuir um milionésimo de via férrea como dantes se possuía uma jeira de terra em pousio nas margens do Ohio.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069