O Conde de Monte Cristo - Cap. 96: O contrato Pág. 910 / 1080

Andrea arrebitava as orelhas.

- No entanto, se assim for, a culpa não será minha, como vão ter oportunidade de verificar - desculpou-se o conde.

Todos escutavam avidamente. Monte-Cristo, que tão raramente abria a boca, ia falar.

- Decerto se lembram - começou o conde no meio do mais profundo silêncio - que foi em minha casa que morreu o desgraçado que viera para me roubar e que ao sair foi morto, ao que se julga, pelo cúmplice?...

- Sim, lembramos - respondeu Danglars.

- Pois bem, para o socorrer, despiram-no e atiraram-lhe as roupas para um canto, onde a justiça as apanhou. Mas ajustiça, quando tomou conta da sobrecasaca e das calças, para as depositar no cartório, esqueceu-se do colete.

Andrea empalideceu visivelmente e aproximou-se devagarinho da porta. Via surgir uma nuvem no horizonte, nuvem que lhe parecia trazer temporal.

- Bom, o malfadado colete foi encontrado hoje todo coberto de sangue e furado no sítio do coração.

As damas soltaram um grito e duas ou três prepararam-se para desmaiar.

- Trouxeram-mo. Ninguém era capaz de adivinhar donde viera semelhante trapo; só eu pensei que se tratava, provavelmente, do colete da vítima. De súbito, o meu criado de quarto, revistando com nojo e precaução a fúnebre relíquia, sentiu um papel na algibeira e tirou-o. Era uma carta dirigida a quem? A si, barão.

- A mim?! - exclamou Danglars.

- Oh, meu Deus, ao senhor, sim! Consegui ler o seu nome através do sangue que manchava a carta – respondeu Monte-Cristo no meio das exclamações de surpresa geral.

- Mas por que motivo isso reteve o Sr. de Villefort? - perguntou a Sr.ª Danglars, olhando o marido com inquietação.

- É muito simples, minha senhora - respondeu Monte-Cristo. - O colete e a carta eram o que se chama provas materiais. Carta e colete foram por mim enviados ao Sr. Procurador Régio, pois, como deve compreender, meu caro barão, a via legal é a mais segura em matéria criminal. Talvez se tratasse de alguma maquinação contra o senhor...

Andrea olhou fixamente Monte-Cristo e desapareceu no segundo salão.

- É possível - disse Danglars. - Esse homem assassinado não era um antigo forçado?

- Sim, era um antigo forçado chamado Caderousse - respondeu o conde.

Danglars empalideceu ligeiramente. Andrea deixou o segundo salão e alcançou a antecâmara.

- Mas assinem, assinem! - exclamou Monte-Cristo. - Verifico que a minha história impressionou toda a gente e peço-lhes humildemente perdão, Sr.ª Baronesa e Mademoiselle Danglars.

A baronesa, que acabava de assinar, entregou a pena ao notário.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069