O Conde de Monte Cristo - Cap. 99: A lei Pág. 932 / 1080

- Oh, que impertinente! Hei-de queixar-me ao Sr. de Villefort da impertinência dos seus criados.

- Minha senhora, não se trata de impertinência, mas sim de precaução. Ninguém entra aqui sem licença do Sr. de Avrigny ou sem ter falado com o Sr. Procurador Régio.

- Mas é precisamente com o Sr. Procurador Régio que desejo falar.

- Assunto urgente?

- Pode bem calcular que sim, visto ainda não ter tornado a subir para a minha carruagem. Mas acabemos com isto: aqui tem o meu cartão, leve-o ao seu amo.

- A senhora espera que eu volte?

- Espero. Vá.

O porteiro fechou a porta e deixou a Sr.ª Danglars na rua.

Verdade seja que a baronesa não esperou muito tempo. Pouco depois a porta voltou a abrir-se numa largura suficiente para dar passagem à baronesa. Ela entrou e a porta fechou-se novamente.

Chegada ao pátio, o porteiro, sem perder um instante a porta de vista, puxou de um apito de algibeira e apitou.

O criado de quarto do Sr. de Villefort apareceu na escadaria.

- Minha senhora, tenha a bondade de desculpar esse pobre homem - disse, vindo ao encontro da baronesa -, mas as suas ordens são rigorosas e o Sr. de Villefort encarregou-me de dizer à senhora que ele não podia fazer o contrário do que fez.

No pátio estava um fornecedor que fora introduzido com as mesmas precauções e cujas mercadorias examinavam.

A baronesa subiu a escadaria. Sentia-se profundamente impressionada com aquela tristeza, que aumentava por assim dizer o círculo da sua, e, sempre guiada pelo criado de quarto, introduziram-na, sem que o seu guia a perdesse de vista, no gabinete do magistrado.

Por mais preocupada que a Sr.ª Danglars estivesse com o motivo que ali a levava, a recepção que lhe dispensara toda a criadagem parecera-lhe tão indigna que começou por se queixar.

Mas Villefort levantou a cabeça, que o sofrimento vergara, e olhou-a com um sorriso tão triste que as queixas morreram-lhe nos lábios.

- Desculpe aos meus criados um terror de que os não posso culpar. Suspeitos, tornaram-se suspeitosos.

A Sr.ª Danglars ouvira já falar muitas vezes, na sociedade, do terror a que se referia o magistrado, mas nunca suporia, se não visse com os seus próprios olhos, que semelhante sentimento pudesse chegar àquele ponto.

- O senhor também tem motivos para se sentir desventurado?

- Tenho, sim, minha senhora - respondeu o magistrado.

- Lamenta-me então?

- Sinceramente, minha senhora.

- E compreende o que me traz cá?

- Vem falar-me do que lhe aconteceu, não é verdade?

- Venho, sim, senhor; uma desgraça horrível.

- Quer dizer, uma contrariedade...

- Uma contrariedade?! - exclamou a baronesa.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069