O Conde de Monte Cristo - Cap. 13: Os Cem Dias Pág. 95 / 1080

Quanto a Fernand, não compreendeu nada. Dantès estava ausente, era tudo o que desejava. Que fora feito dele? Nem sequer o procurou saber. Apenas durante todo o compasso de espera que lhe proporcionava a sua ausência se esforçou em parte por enganar Mercédès acerca dos motivos da sua ausência e em parte a forjar planos de emigração e de fuga. De tempos a tempos também - e essas eram as horas sombrias da sua vida - sentava-se na pontado cabo Pharo, lugar donde se distinguia simultaneamente Marselha e a aldeia dos Catalães, a pensar, triste e imóvel como uma ave de rapina, se não veria voltar, por um desses dois caminhos, o belo jovem de andar desenvolto e cabeça altiva que para ele se transformara no mensageiro de uma cruel vingança. Então os planosde Fernand detinham-se. Estoiraria a cabeça a Dantès com um tiro de espingarda e suicidar-se-ia em seguida, dizia para consigo, procurando disfarçar o assassínio. Mas Fernand enganava-se: esse homem nunca seria assassinado porque continuava a esperar.

Entretanto, no meio de tantas flutuações dolorosas, o Império convocou uma derradeira classe de soldados e todos os homens em condições de pegar em armas lançaram-se para fora de França à voz trovejante do imperado. Fernand partiu como os outros, deixou a sua cabana e Mercédès roído pelo sombrio e terrível pensamentode que depois da sua partida o seu rival regressaria e casaria com aquela que ele amava.

Se Fernand alguma vez tivesse de se matar, seria deixando Mercédès que o faria.

As suas atenções para com Mercédès, a compreensão com que parecia aceitar a sua infelicidade, o cuidado com que procurava ir ao encontro dos seus mais pequenos desejos, tinham produzido o efeito que produzem sempre nos corações generosos as aparênciasdo devotamento. Mercédès sempre fora amiga de Fernand, e aessa amizade por ele juntou-se, aumentando-a, um novo sentimento: oreconhecimento.

- Meu irmão - disse ela, prendendo a mochila do soldado nos ombros do catalão -, meu irmão, meu único amigo, não te faças matar, não me deixes sozinha neste mundo, onde choro e ficarei só se já cá não estiveres.

Estas palavras, proferidas no momento da partida, deram algumas esperanças a Fernand. Se Dantès não voltasse, Mercédès poderia vir um dia a ser dele.

Mercédès ficou sozinha naquela terra nua, que nunca lhe parecera tão árida, e com o mar imenso por horizonte.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069