A Queda de um Anjo - Cap. 25: Capítulo 25 Pág. 141 / 207

— Pois este acidente, de que tanto se desvanecem algumas mulheres, tornou-se para mim suplício. Não querem crer que envolvi meu coração na mortalha de meu marido, no túmulo dele o fechei; e, se pudesse, atirava este resto de formosura àquela campa, que me roubou um pai.

— Então é certo que minha prima abjurou todas as alegrias do coração? — perguntou Calisto, já ferido na alma por este desengano à paixão que o ia queimando com um crescer e desenvolvimento para pavores!

— Todas as que não condigam com a minha situação de viúva.

— Pois se a Providência lhe deparasse um marido digno…

— Maridos dignos são unicamente aqueles que afagam como a filhas as mulheres; são aqueles que as mulheres estremecem como pais; são os que concentram todo o seu viver no pequenino âmbito da família, na placidez e silêncios de almas que se contemplam mudas, quando as vozes do coração já não têm que dizer. Eu experimentei estes contentamentos ao lado de um pai, que me deu todo o seu saber quando já não tinha forças para manejar a espada. Não se podem repetir as situações do meu passado; lembro-as com saudade; mas não cogito nem levemente em revivê-las. Aqui tem V. Exa. a sincera exposição do que sou. Veio isto a dizer-lhe que a vida de mestra, que adoptei, me é golpeada de desgostos e repugnâncias que me fazem desgraçada.

— E como seria V. Exa. feliz? — interrompeu Calisto.

— Numa casinha entre duas árvores, com os meus livros e com as minhas saudades. Ambiciono muito, porque há pessoas abastadas que nunca puderam conseguir esta felicidade, tão moderada aparentemente.





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