Os Brilhantes do Brasileiro - Cap. 27: XXVII - Vem rompendo a luz Pág. 151 / 174

- Nunca foi infeliz?

- Fui apenas infeliz trinta e um anos.

- E quantos tem?!

- Trinta e três, senhor conde.

- Então a sua felicidade é recentíssima! Encontrou-a aqui?

- A perfeita, a inexcedível encontrei-a em Barroso.

- Tem família?

- Mulher, um filho e uma irmã.

- São as delícias da sua vida!... não são?

- Certamente... - respondeu Costa, espantado do tom dulcíssimo com que abemolara aquelas palavras a selvagem índole do pai de Ângela, e do amante de Maria d’Antas.

- Eu também fui casado - tornou o cego - e amei extremosamente minha mulher, que morreu de dor instantaneamente quando me viu ferido de morte em batalha. Compreendo esse sublime e sagrado amor de marido...

- E de pai?... Não tem vossa excelência a boa fortuna de ter filhos?

- Não... não tive... - balbuciou secamente o conde, e declinou a direção da prática, perguntado:

- Quando quer vossa senhoria que eu vá para a sua hospedeira casa?

- Amanhã, querendo vossa excelência. Hoje mando dar algumas ordens ao aposento que o senhor conde vai honrar.

- O senhor doutor!... beijo-lhe as mãos. E poderei chamar um escudeiro que me trata há muitos anos?

- Pois não! Esperarei vossa excelência, a menos que me não dê ordem de o acompanhar desde aqui...

- Não senhor - atalhou o fidalgo flaviense - eu acompanharei o meu amigo.

- Recebo as ordens de vossas excelências - disse Francisco José da Costa, e saiu.

- Este homem pareceu-me extraordinário! - considerou o conde. - Tem uns ares altivos, não tem?

- E mais vossa excelência não lhe viu a gravidade imponente do rosto! As maneiras são de boa sociedade, e o olhar tem uma penetração de águia. Eu estava a gostar de o ouvir.

- Também eu! Muito lhe devo, meu amigo! De mais a mais deu-me um operador simpático, com uma família que me há de aligeirar as horas? Muito lhe devo!

Entrou com tranquila aparência o cirurgião em casa.





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