O Mistério da Estrada de Sintra - Cap. 13: QUARTA PARTE - NARRATIVA DO MASCARADO ALTO
CAPÍTULO I Pág. 82 / 245

Em tempo a condessa começou a descorar e a emagrecer. Os médicos aconselhavam uma viagem a Nice, a Cadix, a Nápoles, a uma cidade do Mediterrâneo. Um amigo da casa que voltava da India, onde tinha sido secretário geral, falou com grande admiração de Malta. O paquete da India havia sofrido um transtorno; ele tinha estado retido cinco dias em Malta, e adorava as suas ruas, a beleza da pequena enseada, o aspeto heroico dos palácios, e a animação petulante das maltesas de grandes olhos árabes…

- Queres tu ir a Malta? disse uma noite o conde a sua mulher.

- Vou a toda a parte; mas, não sei porquê, simpatizo com Malta. Vamos a Malta. Venha também, primo.

- Está claro que vem! gritou o conde.

E declarou que não fazia a viagem sem mim, que eu era a sua alegria, o seu parceiro de Xadrez e o inventor das suas gravatas, que me roubava num navio, e que me deixava seu herdeiro.

Cedi. A condessa estava encantada com a viagem; queria ter uma tempestade, queria ir depois a Alexandria, à Grécia, e beber água do Nilo; tínhamos de caçar os chacais, ir a Meca disfarçados - mil planos incoerentes que nos faziam rir…

Partimos num vapor francês para Gibraltar, onde devíamos tomar o paquete da India.

Passámos no cabo de S. Vicente com um luar admirável, que se erguia por traz do cabo, dava uma dureza saliente e negra aos ásperos ângulos daquela ponta de terra e vinha estender-se sobre a vasta água como uma malha de rede luminosa. O mar ali é sempre mais agitado. A condessa estava na tolda,

sentada numa cadeira de braços, de vime, a cabeça adormecida, os olhos descansados, as mãos imoveis, uma sensação tão feliz na atitude e no rosto.

- Sabe, disse-me ela de repente, baixo, com a voz lenta; - estou com uma sensação tão feliz





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