Um Caso Tenebroso - Cap. 3: III - AS MALÍCIAS DE MALIN Pág. 29 / 249

Mas quando o Senhor Manon vendeu Gondreville a Malin, quando toda a região esqueceu os efeitos da efervescência popular, Michu compreendeu Malin por dentro e por fora; pelo menos, julgou compreendê-lo, pois Malin, como Fouché, é uma dessas personagens que tem tantas faces e tamanha profundeza em cada face, que podem dizer-se impenetráveis no momento em que representam, e só podem vir a ser explicadas muito tempo depois do que fizeram.

Nas circunstâncias mais graves -da sua vida, Malin nunca deixava de consultar o seu amigo

Grévin, notário de Arcis, cuja apreciação das coisas e dos homens era a distância, nítida, clara, precisa. Este hábito é a prudência e faz a força dos homens secundários,

Ora em Novembro de 1803 as conjunturas foram tão graves para o conselheiro de Estado, que uma carta teria comprometido os dois amigos. Malin, que devia ser nomeado -senador, receou explicar-se em Paris; deixou o seu palacete e apresentou-se em Gondreville, dando ao Primeiro Cônsul só uma das razões que o levavam a desejar estar ali presente, a qual, aos olhos de Bonaparte, ainda por cima, o faziam parecer zeloso, quando. é certo que, em vez de tratar-se de um assunto do Estado, apenas estava em causa um assunto pessoal. Enquanto Michu vigiava e aguardava no parque, à maneira dos selvagens, o momento propício para a vingança, o político Malin, habituado a fazer desligar rapidamente os acontecimentos que lhe diziam respeito, conduzia o amigo até um pequeno prado do jardim inglês, local deserto e favorável a uma conferência misteriosa. Assim, no meio da pradaria, e falando em voz baixa, os dois amigos encontravam-se suficientemente isolados para poderem ser ouvidos, se porventura alguém escondido os quisesse escutar, e prontos a mudar de conversa, se acontecesse aparecerem indiscretos.