Um Caso Tenebroso - Cap. 3: III - AS MALÍCIAS DE MALIN Pág. 30 / 249

- Porque não ficamos nós num quarto do castelo? - perguntou Grévin.

- Não viste os dois homens que o prefeito de polícia me mandou?

Embora Fouché fosse, no caso da conspiração de Pichegru, George, Moreau e Polignac, a alma do gabinete consular, não dirigia o ministério da polícia e era então mero conselheiro de Estado, como Malin.

- Aqueles dois homens são o braço direito de Fouché. Um deles, esse jovem moscadim, cuja cara faz lembrar uma garrafa de limonada, tem vinagre nos beiços e verdasco nos olhos; acabou com a insurreição do Oeste, no ano VII, em menos de quinze dias. O outro é filho de Lenoir, o único que tem no sangue as grandes tradições da polícia. Pedi um agente de segunda ordem, apoiado numa personagem oficial e mandaram-me estes dois sujeitos. Ah! Grévin, Fouché, não há dúvida, quer ver o meu jogo. E aí está porque eu deixei os dois cavalheiros a jantar no castelo; podem tudo examinar; não encontrarão nem Luís XVIII nem o menor indício.

- Lá isso! Mas - atalhou Grévin -, afinal qual é o teu jogo?

- Meu amigo, um jogo dúplice é sempre perigoso; mas, em relação a Fouché, o meu é mesmo tríplice, e talvez ele tenha farejado que estou na posse dos segredos da casa de Bourbon.

-Tu?

- Eu - confirmou Malin.

- Não te lembras porventura de Favras?

Este nome causou impressão no conselheiro.

- E desde quando? - perguntou Grévin, depois de uma pausa.

- Desde o Consulado vitalício. - Mas provas, nenhumas?

- Nenhumas! - disse Malin, fazendo estalar a unha do polegar num dos seus incisivos .

. Em poucas palavras, Malin traçou, nitidamente, a posição crítica em que Bonaparte colocava a Inglaterra, ameaçada de morte pelo campo de Bolonha, explicando a Grévin o alcance, de que a França e a Europa se não davam conta, mas de que Pitt desconfiava, do projecto de desembarque; depois a posição crítica em que a Inglaterra ia colocar Bonaparte.





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