O Conde de Monte Cristo - Cap. 14: O prisioneiro furioso e o prisioneiro louco Pág. 100 / 1080

- Oh, então, senhor, estou livre, estou salvo!

- Quem o mandou prender? - perguntou o inspector.

- O Sr. de Villefort - respondeu Dantès. - Procure-o e fale com ele.

- O Sr. de Villefort já não está em Marselha há um ano, mas sim em Toulouse.

- Não me admira - murmurou Dantès. - O meu único protector foi afastado.

- O Sr. de Villefort tinha algum motivo de ódio contra si? - perguntou o inspector.

- Nenhum, senhor, e até foi benevolente comigo.

- Poderei portanto confiar nas notas que deixou a seu respeito ou nas informações que me der?

- Inteiramente, senhor.

- Está bem, aguarde.

Dantès caiu de joelhos, levantou as mãos ao céu e murmurou uma prece na qual recomendava a Deus aquele homem que descera na prisão semelhante ao Salvador ao ir libertar as almas do Inferno.

A porta voltou a fechar-se; mas a esperança que descera com o inspector ficara fechada na masmorra de Dantès.

- Deseja ver o registo de presos agora ou passar à masmorra do abade? - perguntou o governador.

- Acabemos com as masmorras de uma vez - respondeu o inspector. - Se subisse à luz do dia, talvez já não tivesse coragem de continuar a minha triste missão.

- Oh, o abade não é um prisioneiro como o outro! A sua loucura é menos confrangedora do que a razão do seu vizinho.

- E qual é a sua loucura?

- Uma loucura estranha: julga-se possuidor de um tesouro imenso.

No primeiro ano do seu cativeiro mandou oferecer um milhão ao Governo se o Governo o pusesse em liberdade; no segundo ano, dois milhões; no terceiro, três milhões, e assim sucessivamente.

Vai no quinto ano de cativeiro; portanto, pedir-lhe-á para lhe falar em segredo e oferecer-lhe-á cinco milhões.

- Ah, ah! é curioso, com efeito! - riu o inspector. E como tratam esse milionário?

- Por abade Faria.

- O n.º 27! - disse o inspector.

- É aqui. Abra, Antoine.

O chaveiro obedeceu e o olhar curioso do inspector mergulhou na masmorra do «abade louco»

Era assim que se designava geralmente o prisioneiro.

No meio da cela, num círculo traçado no chão com um bocado de gesso tirado da parede, encontrava-se deitado um homem quase nu, de tal forma as suas roupas se tinham transformado em farrapos.

Desenhava no círculo linhas geométricas muito nítidas e parecia tão ocupado a resolver o seu problema quanto Arquimedes o estava quando foi morto por um soldado de Marcelo. Por isso, não se mexeu, nem mesmo ao ouvir o barulho que a porta da masmorra fez ao abrir-se, e só pareceu despertar quando a luz dos archotes iluminou com uma claridade que não era habitual o solo húmido em que trabalhava. Então virou-se e fitou com surpresa a númerosa companhia que lhe acabava de entrar na cela.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069