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Capítulo 14: O prisioneiro furioso e o prisioneiro louco

Página 99

- Creio que sim; não sei nada a esse respeito, mas isso pouco importa. O que deve importar, não só a mim, pobre prisioneiro, mas também a todos os funcionários que servem a justiça e ao próprio rei que governa, é que um inocente não seja vítima de uma denúncia infame e não morra aferrolhado amaldiçoando os seus carrascos.

- Está hoje muito humilde - observou o governador -, mas nem sempre esteve assim. Falava de modo muito diferente, meu caro, no dia em que quis agredir o seu guarda.

- É verdade, senhor - reconheceu Dantès -, e peço humildemente perdão a esse homem que sempre foi bom para mim... Mas, que quer, estava louco, estava furioso!

- E já o não está?

- Não, senhor, porque o cativeiro me vergou, quebrou, aniquilou... Há tanto tempo que estou aqui!

- Tanto tempo?... Em que data foi preso? - perguntou o inspector.

- Em 28 de Fevereiro de 1815, às duas horas da tarde.

O inspector fez as contas.

- Estamos em 10 de Julho de 1816... Que diz? Está preso apenas há dezassete meses.

- Qual dezassete meses! - exclamou Dantès. - Ah, o senhor não sabe o que são dezassete meses de prisão! Dezassete anos, dezassete séculos, sobretudo para um homem como eu, prestes a ser feliz, para um homem que, como eu, ia casar com a mulher amada, para um homem que via abrir-se diante de si uma carreira respeitável e que perdeu tudo de um momento para o outro; que do meio do dia mais belo caiu na noite mais profunda, que viu a sua carreira destruída, que não sabe se aquela que o amava o ama ainda, que ignora se o seu velho pai está morto ou vivo. Dezassete meses de prisão para um homem habituado ao ar do mar, à independência do marinheiro, ao espaço, à imensidade, ao infinito! Senhor, dezassete meses de prisão é mais do que merecem todos os crimes que designam pelos nomes mais odiosos da língua humana. Tenha, pois, piedade de mim, senhor e obtenha-me não indulgência, mas sim rigor; não o perdão, mas sim um julgamento.

Juízes, senhor, só peço juízes. Não se pode recusar juízes a um acusado.

- Está bem, veremos - respondeu o inspector.

Depois virando-se para o governador:

- Para ser franco, o pobre diabo mete-me pena. Quando subirmos, há-de mostrar-me o seu registo de presos.

- Certamente - concordou o governador -, mas creio que encontrará contra ele notas terríveis.

- Senhor - continuou Dantès -, sei que não pode fazer-me sair daqui por sua própria decisão; mas pode transmitir o meu pedido às autoridades, pode provocar um inquérito, pode, enfim, fazer-me submeter a julgamento. Um julgamento, é tudo o que peço. Que saiba que crime cometi e a que pena sou condenado; porque, como sabe, a incerteza é o pior de todos os suplícios.

- Iluminem-me - disse o inspector.

- Senhor - gritou Dantès -, adivinho pelo tom da sua voz que está comovido. Senhor, diga-me que tenha esperança.

- Não lhe posso dizer isso - redarguiu o inspector -, posso apenas prometer-lhe examinar o seu processo.

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 99

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069