O Conde de Monte Cristo - Cap. 14: O prisioneiro furioso e o prisioneiro louco Pág. 101 / 1080

Levantou-se precipitadamente, pegou num cobertor colocado aos pés do seu leito miserável e envolveu-se nele rapidamente para aparecer em estado mais decente aos olhos dos estranhos.

- Que deseja? - perguntou o inspector, sem variar a sua fórmula.

- Eu, senhor? - respondeu o abade com ar surpreendido - Não desejo nada.

- Não compreendeu - prosseguiu o inspector. - Sou agente do Governo e a minha missão é descer às prisões e escutar as reclamações dos prisioneiros.

- Oh, então, senhor, isso é outra coisa! - exclamou vivamente o abade. - Espero que nos consigamos entender.

- Vê? - disse baixinho governador. - Isto não começa como lhe anunciei?

- Senhor - continuou o prisioneiro -, sou o abade Faria, natural de Roma. Fui vinte anos secretário do cardeal Rospigliosi e preso, não sei muito bem porquê, em princípios do ano de 1811. Desde esse momento que reclamo a minha liberdade às autoridades italianas e francesas.

- Porquê às autoridades francesas? - perguntou o governador.

- Porque fui preso no Piombino e presumo que como Milão e Florença o Piombino se tornou a capital de qualquer departamento francês.

O inspector e o governador entreolharam-se rindo.

- Demónio, meu caro - observou o inspector -, as suas notícias da Itália não são frescas.

- Datam do dia em que rui preso, senhor - redarguiu o abade Faria. - E como Sua Majestade o Imperador criara o reino de Roma para o filho que o céu acabava de lhe dar, presumo que prosseguindo o curso das suas conquistas realizou o sonho de Maquiavel e de César Bórgia, que era tornar toda a Itália um só e único reino.

- Senhor - disse o inspector -, felizmente a Providência impôs algumas alterações a esse plano gigantesco de que me parece partidário bastante entusiasta.

- É o único meio de tornar a Itália um Estado forte, independente e feliz - respondeu o abade.

- É possível - admitiu o inspector -, mas não vim aqui para fazer consigo um curso de política ultramontana e sim para lhe perguntar, o que já fiz, se tem alguma reclamação a apresentar sobre a maneira como é alimentado e se encontra alojado.

- A alimentação é o que é em todas as prisões - respondeu o abade. - Isto é, muito má. Quanto ao alojamento, é húmido, como vê, mas mesmo assim bastante aceitável para uma masmorra. Agora, porém, não se trata disso, mas sim de revelações da mais alta importância e do mais alto interesse que desejo fazer ao Governo.

- Aí está - disse baixinho o governador ao inspector.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069