O Conde de Monte Cristo - Cap. 113: O passado Pág. 1041 / 1080

Desde a revolução de Julho que não havia prisioneiros no Castelo de If; apenas um posto destinado a impedir o contrabando se encontrava instalado na casa da guarda. Um porteiro recebia os curiosos à porta para lhos mostrar aquele monumento de terror transformado em monumento de curiosidade.

E no entanto, embora conhecesse pormenorizadamente o que ia ver, quando entrou debaixo da abóbada, quando desceu a escada negra, quando o conduziram às celas que pedira para ver, uma palidez fria invadiu-lhe a testa, cujo suor gelado lhe refluiu até ao coração.

O conde perguntou se ainda havia algum antigo carcereiro do tempo da Restauração; todos tinham sido reformados ou se dedicavam a outras profissões.

O porteiro que o acompanhava estava ali desde 1830 apenas.

Levaram-no à sua própria cela.

Reviu a luz baça filtrar-se através do estreito respiradouro; reviu o lugar onde estava a cama, retirada depois, e atrás da cama, embora tapada, mas ainda visível devido às pedras mais novas, a abertura praticada pelo abade Faria.

Monte-Cristo sentiu as pernas fraquejarem; pegou num banco de madeira e sentou-se.

- Contaram-se algumas histórias acerca deste castelo além da relacionada com a prisão de Mirabeau? - perguntou o conde. - Existe alguma tradição relacionada com estas celas lúgubres, onde custa a crer que homens alguma vez tenham encerrado um homem vivo?

- Existe, sim, senhor - respondeu o porteiro -, e a respeito desta mesma cela o carcereiro Antoine transmitiu-me uma.

Monte-Cristo estremeceu.

O carcereiro Antoine era o seu carcereiro. Quase lhe esquecera o nome e a cara, mas assim que o seu nome foi pronunciado reviu-o tal qual era, com a cara rodeada de barba, o seu casaco escuro e o seu molho de chaves, cujo tilintar lhe parecia ainda ouvir.

O conde virou-se e julgou vê-lo na sombra do corredor, tornada mais densa pelo contraste com a luz do archote que ardia nas mãos do porteiro.

- O senhor quer que lha conte? - perguntou o porteiro.

- Pois sim, conte - respondeu Monte-Cristo.

E pôs a mão no peito para comprimir as violentas pulsações do coração, assustado por ir ouvir contar a sua própria história.

- Conte - repetiu.

- Esta cela - prosseguiu o porteiro - era ocupada por um prisioneiro, há muito tempo, um homem perigosíssimo, ao que parece, e tanto mais perigoso quanto lhe não faltava engenho.

Nessa altura, havia outro homem no castelo, mas esse não era mau, era um pobre padre louco.

- Ah, sim, louco!... - repetiu Monte-Cristo. - E qual era a sua loucura?

- Oferecia milhões se lhe restituíssem a liberdade.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069