O Conde de Monte Cristo - Cap. 114: Peppino Pág. 1057 / 1080

A cela estava limpa, apesar de vazia, e seca, apesar de situada debaixo da terra a uma profundidade incomensurável.

Uma cama de ervas secas cobertas de peles de cabra encontrava-se, não erguida, mas estendida, num canto da cela.

Ao vê-la, Danglars julgou ver o símbolo radioso da sua salvação.

- Deus seja louvado, é uma verdadeira cama! - murmurou.

Era a segunda vez numa hora que invocava o nome de Deus, coisa que lhe não acontecia havia dez anos.

- Ecco - disse o guia.

E empurrou Danglars para dentro da cela e fechou a porta.

Rangeu um ferrolho, Danglars estava prisioneiro.

De resto, mesmo que não houvesse ferrolho seria necessário ser. S. Pedro e ter por guia um anjo do céu para passar através da guarnição que ocupava as Catacumbas de S. Sebastião e acampava à volta do seu chefe, no qual os nossos leitores já certamente reconheceram o famoso Luigi Vampa.

Danglars também reconhecera o bandido, em cuja existência não quisera acreditar quando Morcerf tentara descrevê-lo em França. Não só o reconhecera, como também reconhecera a cela em que Morcerf estivera encerrado e que, segundo todas as probabilidades, era o alojamento dos estranhos.

Estas recordações, nas quais, de resto, Danglars se comprazia com certa satisfação, restituíam-lhe a tranquilidade. Uma vez que o não tinham matado imediatamente, era porque os bandidos não tencionavam mesmo matá-lo.

Tinham-no capturado para o roubar, e como só trazia consigo alguns luíses, exigir-lhe-iam com certeza algum resgate.

Recordou-se de que Morcerf fora taxado em qualquer coisa como quatro mil escudos; como se atribuía um aspecto muito mais importante do que Morcerf; fixou pessoalmente no seu espírito que o seu resgate seria de oito mil escudos.

Oito mil escudos correspondiam a quarenta mil libras.

Ficava-lhe ainda qualquer coisa como cinco milhões e cinquenta mil francos.

Com isso, um homem safava-se em qualquer parte.

Portanto, quase certo de se tirar de apuros, atendendo a que não havia exemplo de alguma vez se ter taxado um homem em cinco milhões e cinquenta mil libras, Danglars deitou-se na sua cama, onde, depois de se virar duas ou três vezes, adormeceu com a tranquilidade do herói cuja história Luigi Vampa estudava.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069