A cela estava limpa, apesar de vazia, e seca, apesar de situada debaixo da terra a uma profundidade incomensurável.
Uma cama de ervas secas cobertas de peles de cabra encontrava-se, não erguida, mas estendida, num canto da cela.
Ao vê-la, Danglars julgou ver o símbolo radioso da sua salvação.
- Deus seja louvado, é uma verdadeira cama! - murmurou.
Era a segunda vez numa hora que invocava o nome de Deus, coisa que lhe não acontecia havia dez anos.
- Ecco - disse o guia.
E empurrou Danglars para dentro da cela e fechou a porta.
Rangeu um ferrolho, Danglars estava prisioneiro.
De resto, mesmo que não houvesse ferrolho seria necessário ser. S. Pedro e ter por guia um anjo do céu para passar através da guarnição que ocupava as Catacumbas de S. Sebastião e acampava à volta do seu chefe, no qual os nossos leitores já certamente reconheceram o famoso Luigi Vampa.
Danglars também reconhecera o bandido, em cuja existência não quisera acreditar quando Morcerf tentara descrevê-lo em França. Não só o reconhecera, como também reconhecera a cela em que Morcerf estivera encerrado e que, segundo todas as probabilidades, era o alojamento dos estranhos.
Estas recordações, nas quais, de resto, Danglars se comprazia com certa satisfação, restituíam-lhe a tranquilidade. Uma vez que o não tinham matado imediatamente, era porque os bandidos não tencionavam mesmo matá-lo.
Tinham-no capturado para o roubar, e como só trazia consigo alguns luíses, exigir-lhe-iam com certeza algum resgate.
Recordou-se de que Morcerf fora taxado em qualquer coisa como quatro mil escudos; como se atribuía um aspecto muito mais importante do que Morcerf; fixou pessoalmente no seu espírito que o seu resgate seria de oito mil escudos.
Oito mil escudos correspondiam a quarenta mil libras.
Ficava-lhe ainda qualquer coisa como cinco milhões e cinquenta mil francos.
Com isso, um homem safava-se em qualquer parte.
Portanto, quase certo de se tirar de apuros, atendendo a que não havia exemplo de alguma vez se ter taxado um homem em cinco milhões e cinquenta mil libras, Danglars deitou-se na sua cama, onde, depois de se virar duas ou três vezes, adormeceu com a tranquilidade do herói cuja história Luigi Vampa estudava.