O Conde de Monte Cristo - Cap. 115: A ementa de Luigi Vampa Pág. 1060 / 1080

Junto do tacho, Peppino pousou ainda um lindo cesto de uvas de Veletri e uma garrafa de vinho de Orvieto.

Decididamente, Peppino era um gastrónomo.

Ao ver aqueles preparativos gastronómicos, Danglars sentiu crescer-lhe água na boca.

- Ah, ah! - exclamou o prisioneiro. - Vejamos se este é mais tratável do que o outro...

E bateu delicadamente na porta.

-Lá vamos - respondeu o bandido, que, devido à frequência da casa de mestre Pastrini, acabara por aprender o francês, incluindo os seus idiotismos.

De facto, foi abrir.

Danglars reconheceu-o como aquele que lhe gritara furioso: «Cabeça para dentro!» Mas não era altura para recriminações.

Mostrou, pelo contrário, a sua cara mais agradável e perguntou com um sorriso gracioso:

- Perdão, senhor, mas tencionarão não me dar também de jantar?

- Como, V. Ex.a estará por acaso com fome? - estranhou Peppino.

- Essa do «por acaso» está boa - murmurou Danglars. - Há precisamente vinte e quatro horas que não como...

Depois, erguendo a voz, acrescentou:

- Mas claro, senhor, que tenho fome, e até muita fome!

- E V. Ex.a quer comer?

- Imediatamente, se for possível.

- Nada mais fácil - respondeu Peppino. - Aqui arranja-se tudo o que se queira, pagando, bem entendido, como acontece entre todos os cristãos honestos.

- Claro! - exclamou Danglars. - Embora, na verdade, as pessoas que nos prendem e conservam prisioneiros devessem ao menos alimentar-nos.

- Ah, Excelência, não é costume! -redarguiu Peppino.

- Parece-me uma razão muito pouco convincente - volveu-lhe Danglars, que contava amaciar o seu guarda com a sua amabilidade -, mas conformo-me com ela. Então, quando me dão de comer?

- Imediatamente, Excelência. Que deseja?

E Peppino pousou o tacho no chão, de tal forma que o fumo subiu directamente às narinas de Danglars.

- Vamos, peça!

- Têm cozinhas aqui? - perguntou o banqueiro.

- Se temos cozinhas?! Temos cozinhas completas!

- E cozinheiros?

- Excelentes! - Então, tragam-me um frango, peixe, caça... qualquer coisa, contanto que eu coma.

- Como V. Ex. queira. Um frango, está bem?

- Sim, um frango.

Peppino levantou-se e gritou a plenos pulmões:

- Um frango para Sua Excelência! A voz de Peppino ainda vibrava nas abóbadas e já aparecia um rapaz, belo, esbelto, e seminu como os peixeiros antigos.

Trazia um frango numa travessa de prata, frango que se segurava sozinho na cabeça.

- Parece que estamos no Café de Paris - murmurou Danglars.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069