O Conde de Monte Cristo - Cap. 15: O número 34 e o número 27 Pág. 112 / 1080

Era fácil assegurar-se disso; mas como arriscar uma pergunta? Claro que era muito simples esperar a chegada do carcereiro, fazê-lo escutar o ruído e ver a cara que faria. Mas proporcionar-se semelhante satisfação não seria atraiçoar interesses demasiados preciosos por uma satisfação tão curta? Infelizmente a cabeça de Edmond, campânula vazia, estava dominada pelo zumbido de uma ideia. Encontrava-se tão fraco que o seu espírito pairava como um vapor e não conseguia condensar-se à volta de um pensamento. Edmond viu apenas um meio de dar clareza à sua reflexão e lucidez ao seu julgamento. Olhou para o caldo ainda fumegante que o carcereiro acabava de deixar em cima da mesa, levantou-se, aproximou-se dele cambaleante, pegou na malga, levou-a aos lábios e engoliu a beberagem que continha com uma indizível sensação de bem-estar.

Teve então a coragem de ficar por ali. Ouvira dizer que pobres náufragos recolhidos, extenuados pela fome, tinham morrido por haverem devorado vorazmente uma alimentação demasiado substancial. Edmond pousou em cima da mesa o pão que tinha já quase ao alcance da boca e voltou a deitar-se. Desistira de morrer.

Não tardou a sentir a luz entrar-lhe no cérebro. Todas as suas ideias vagas e quase inapreensíveis retomavam o seu lugar naquele tabuleiro de xadrez maravilhoso, onde uma casa a mais talvez seja suficiente para estabelecer a superioridade do homem sobre os animais. Conseguiu pensar e fortificar o pensamento com o raciocínio.

Então, disse para consigo: «é necessário tentar a experiência, mas sem comprometer ninguém. Se o trabalhador for um operário vulgar, bastar-me-á bater na minha parede e imediatamente ele interromperá a sua tarefa para procurar adivinhar quem bate e com que fim bate. Mas se o seu trabalho não for só lícito, mas também encomendado, retomá-lo-á imediatamente. Se, pelo contrário, for um prisioneiro, o barulho que eu fizer assustá-lo-á. Receando ser descoberto, interromperá o seu trabalho e só o retomará à noite, quando julgar toda a gente deitada e a dormir.» Edmond levantou-se imediatamente de novo. Desta vez as pernas já não lhe vacilavam nem tinha visões de fogos-fátuos. Dirigiu-separa um canto da cela, arrancou uma pedra minada pela humidade e foi bater na parede mesmo no sitio onde o barulho era mais sensível.

Bateu três vezes.

Logo à primeira, o barulho cessou como que por encanto.

Edmond escutou com toda a sua alma. Passou uma, duas horas sem que nenhum novo ruído se ouvisse; Edmond provocara do outro lado da muralha um silêncio absoluto.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069