O Conde de Monte Cristo - Cap. 16: Um sábio italiano Pág. 124 / 1080

Oh, digo-lhe e repito-lhe que daqui em diante não farei mais nada para tentar reconquistar a minha liberdade, visto a vontade de Deus ser que a perca para sempre!

Edmond baixou a cabeça para não confessar àquele homem que a alegria de ter um companheiro o impedia de compartilhar, como deveria, a dor que experimentava o prisioneiro por não conseguir fugir.

O abade Faria deixou-se cair na cama de Edmond e Edmond ficou de pé.

O jovem nunca pensara na fuga. Há coisas que parecem de tal modo impossíveis que nem sequer nos ocorre a ideia de as tentar e que evitamos instintivamente. Furarmos cinquenta pés debaixo de terra; dedicarmos a essa operação três anos de trabalho para chegarmos, se formos bem sucedidos, a um precipício aberto a pique sobre o mar, precipitarmo-nos de cinquenta, sessenta ou talvez cem pés para nos esmagarmos caindo de cabeça sobre qualquer rochedo, se primeiro nos não matar a bala de uma sentinela; sermos obrigados, se conseguirmos escapar a todos esses perigos, a nadar uma légua - tudo isso seria mais do que suficiente para nos resignarmos, e como vimos Dantès quase levara essa resignação até à morte.

Mas agora que o jovem vira um velho agarrar-se à vida com tanta energia e dar-lhe o exemplo das soluções desesperadas, pôs-se a reflectir e a avaliar a sua coragem. Outro tentara o que ele nem lhe passara pela cabeça fazer; outro, menos novo, menos forte, menos destro do que ele, arranjara, a poder de habilidade e paciência, todos os instrumentos de que necessitara para essa incrível operação que apenas uma medida mal tirada fizera malograr; ora se outro conseguira tudo isso, nada era impossível a Dantès. Faria furara cinquenta pés; ele furaria cem. Aos cinquenta anos, Faria dedicara três à sua obra; ele, que tinha apenas metade da idade de Faria, dedicar-lhe-ia seis. Faria, abade, sábio, homem de igreja, não receava correr o risco da travessia do Castelo de If para a ilha de Daume, de Ratonneau ou de Lemaire; ele, Edmond, marinheiro; ele, Dantès, ousado mergulhador que muitas vezes fora buscar um ramo de coral ao fundo do mar, hesitaria em nadar uma légua? De que tempo precisava para nadar uma légua? Uma hora? Pois bem, não passara horas inteiras no mar sem pôr pé em terra? Não, não, Dantès não necessitava de ser encorajado pelo exemplo. Tudo o que outro fizesse ou pudesse fazer, Dantès fá-lo-ia.

O jovem reflectiu um instante.

- Encontrei o que o senhor procurava - disse ao velho.

Faria estremeceu.

- Você? - disse, levantando a cabeça com um ar que indicava que se Dantès dizia a verdade o desânimo do seu companheiro não seria de longa duração. - Você? Vejamos, que foi que encontrou!





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069