O Conde de Monte Cristo - Cap. 17: A cela do abade Pág. 128 / 1080

Capítulo XVII - A cela do abade

Depois de passar curvado, mas mesmo assim com bastante facilidade, pela passagem subterrânea, Dantès chegou à extremidade oposta da galeria que dava para a cela do abade.

Aí, a passagem estreitava e oferecia apenas o espaço suficiente para um homem poder deslizar rastejando. A cela do abade era lajeada. Fora levantando uma das lajes colocadas no canto mais escuro que ele começara a laboriosa operação de que Dantès vira o fim.

Mal entrou e se pôs de pé, o jovem examinou a cela com grande atenção. à primeira vista, não apresentava nada de especial.

- Bom - disse o abade -, é apenas meio-dia e um quarto e ainda temos aí. umas horas adiante de nós.

Dantès olhou à sua volta à procura do relógio em que o abade pudera ver as horas de forma tão precisa.

- Veja esse raio de luz que entra pela minha janela - disse o abade - e veja depois as linhas que tracei na parede. Graças a essas linhas, que se combinam com o duplo movimento da Terra e a elipse que ela descreve à volta do Sol, sei mais exactamente a hora do que se tivesse um relógio, porque um relógio desacerta-se, ao passo que o Sol e a Terra nunca se desacertam.

Dantès nada compreendera desta explicação, pois sempre julgara, ao ver o Sol levantar-se detrás das montanhas e pôr-se no Mediterrâneo, que era ele que andava e não a Terra. O duplo movimento do Globo onde morava e de que no entanto se não apercebia parecia-lhe quase impossível. Em cada palavra do seu interlocutor via mistérios da ciência tão interessantes de aprofundar como as minas de ouro e diamantes que visitara numa viagem que fizera ainda quase criança a Guzarate e a Golconda.

- Vamos - disse ao abade -, tenho pressa de examinar os seus tesouros.

O abade dirigiu-se para a chaminé, deslocou com o formão, que continuava a trazer na mão, a pedra que formava dantes a lareira e que ocultava uma cavidade bastante profunda.

Era nessa cavidade que se encontravam guardados todos os objectos de que falara a Dantès.

- Que quer ver primeiro? - perguntou-lhe.

- Mostre-me a sua grande obra sobre a monarquia na Itália.

Faria tirou do precioso esconderijo três ou quatro rolos de pano, enrolados como folhas de papiro. Eram tiras de pano com cerca de quatro polegadas de largura e dezoito de cumprimento. Essas tiras, numeradas, estavam cobertas de uma escrita que Dantès pôde ler, pois fora traçada na língua materna do abade, isto é, o italiano, idioma que, na sua qualidade de provençal, Dantès compreendia perfeitamente.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069