O Conde de Monte Cristo - Cap. 17: A cela do abade Pág. 132 / 1080

Cada indivíduo, desde o mais baixo ao mais alto grau da escala social, reúne à sua volta um pequeno mundo de interesses, com os seus turbilhões e os seus átomos recurvos, como os mundos de Descartes. Simplesmente, esses mundos vão sempre aumentando à medida que sobem. Trata-se de uma espiral invertida que se sustenta na ponta devido a um jogo de equilíbrio. Mas voltemos ao seu mundo. Ia ser nomeado comandante do Pharaon, não ia?

- Ia.

- Ia casar com uma bonita rapariga, não ia?

- Ia.

- Alguém tinha interesse em que se não tornasse comandante do Pharaon? Alguém tinha interesse em que não casasse com Mercédès? Responda primeiro à primeira pergunta; a ordem é a chave de todos os problemas. Alguém tinha interesse em que se não tornasse comandante do Pharaon?

- Não. Toda a gente gostava muito de mim a bordo. Se os marinheiros pudessem escolher um chefe, estou certo de que me escolheriam a mim. Apenas um homem tinha um motivo para me querer mal; tempos antes discutira com ele e desafiara-o para um duelo que ele recusara.

- Ora aí está! Como se chamava esse homem?

- Danglars.

- Que era a bordo?

- Guarda-livros.

- Se se tivesse tornado comandante conservá-lo-ia no seu lugar?

- Não, se isso dependesse de mim, pois julgara notar algumas incorrecções nas suas contas.

- Muito bem. Agora outra pergunta: alguém assistiu à sua última conversa com o comandante Leclère?

- Não, estivemos sós.

- Mas alguém poderia ouvir a conversa?

- Podia, porque a porta estava aberta. E até... espere... sim, sim, Danglars passou precisamente no momento em que o comandante Leclère me entregava o embrulho destinado ao grande marechal.

- Bom, estamos no bom caminho - declarou o abade. - Levou alguém a terra consigo quando aportou à ilha de Elba?

- Ninguém.

- Entregaram-lhe uma carta?

- Entregaram, o grande marechal.

- Que fez dessa carta?

- Meti-a na carteira.

- Tinha portanto a carteira consigo? Como é que o marinheiro podia trazer no bolso uma carteira destinada a guardar uma carta oficial?

- Tem razão, a carteira estava a bordo.

- Portanto, foi só a bordo que meteu a carta na carteira?

- Foi

- De Porto Ferraio a bordo, como levou a carta?

- Na mão.

- Quando subiu a bordo do Pharaon toda a gente viu, pois, que levava uma carta?

- Sim.

- Danglars como os outros?

- Danglars como os outros.

- Agora escute bem, reúna todas as suas recordações: lembra-se dos termos em que estava redigida a denúncia?

- Oh, perfeitamente! Reli-a três vezes e todas as palavras me ficaram na memória.

- Repita-ma.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069