O Conde de Monte Cristo - Cap. 18: O Tesouro Pág. 146 / 1080

César Bórgia, que concluíra a sua conquista, necessitava de dinheiro para comprar a Itália toda inteira. O papa necessitava igualmente de dinheiro para acabar com Luís XII, rei de França, ainda terrível apesar dos seus últimos reveses. Impunha-se portanto fazer uma boa especulação, o que era difícil nesta pobre Itália enfraquecida. Sua Santidade teve então uma ideia: resolveu nomear dois cardeais. Escolhendo duas das grandes personagens de Roma, dois ricos sobretudo, eis o que lucrava o Santo Padre com a especulação: antes de mais nada, podia vender os altos cargos e os empregos magníficos que os dois cardeais possuíssem; além disso, podia contar vender por preço vantajosíssimo os dois chapéus. »A especulação tinha ainda uma terceira parte, que em breve aparecerá o papa e César Bórgia arranjaram primeiro os dois futuros cardeais: Jean Rospigliosi, que só por si detinha quatro das mais altas dignidades da Santa Sé, e César Spada, um dos mais nobres e ricos romanos. Tanto um como outro pressentiam o preço de semelhante favor do papa, mas eram ambiciosos... Arranjados os cardeais, César não tardou a encontrar compradores para os seus cargos. Daí resultou que Rospigliosi e Spada pagaram para ser cardeais e que outros oito pagaram para ser o que eram anteriormente os dois novos cardeais. Deste modo, entraram oitocentos mil escudos nos cofres dos especuladores.

»Passemos à última parte da especulação, que já é tempo.

Depois de cumular de lisonjas Rospigliosi e Spada e de lhes conferir as insígnias do cardinalato, o papa, certo de que para liquidarem a dívida não fictícia do seu reconhecimento deviam ter reunido e realizado a sua fortuna para se fixarem em Roma - o papa e César Bórgia convidaram para jantar os dois cardeais.

»O caso deu origem a um debate entre o Santo Padre e o filho.

César achava que se podia utilizar um dos meios que tinha sempre à disposição dos seus amigos íntimos, a saber: em primeiro lugar a famosa chave com a qual se pedia a certas pessoas que abrissem determinado armário. A chave tinha uma pontinha de ferro, negligência do operário. Quando se fazia força para abrir o armário, cuja fechadura estava perra, a pessoa picava-se nessa pontinha e morria no dia seguinte. Havia também o anel de cabeça de leão que César metia no dedo quando dava certos apertos de mão. O leão mordia a epiderme dessas mãos distinguidas e a mordedura era mortal ao cabo de vinte e quatro horas.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069