O Conde de Monte Cristo - Cap. 21: A Ilha de Tiboulen Pág. 171 / 1080

Dantès ficou imóvel e mudo diante do grandioso espectáculo, como se o visse pela primeira vez. De facto esquecera-o desde que entrara no Castelo de If. Virou-se para a fortaleza e interrogou simultaneamente com um longo olhar circular a terra e o mar.

O sombrio edifício saía do seio das vagas com a majestade imponente das coisas horríveis, que parecem ao mesmo tempo vigiar e comandar.

Deviam ser cinco horas da manhã. O mar continuava a acalmar-se.

«Dentro de duas ou três horas», pensou Edmond, «o carcereiro entrará na minha cela, encontrará o cadáver do meu pobre amigo, reconhecê-lo-á, procurar-me-á em vão e dará o alarme.

Então, descobrirão o buraco, a galeria. Interrogarão os homens que me lançaram ao mar e que devem ter ouvido o grito que soltei. Acto contínuo, barcos cheios de soldados armados correrão atrás do pobre fugitivo, que se sabe perfeitamente não estar longe. O canhão avisará toda a costa de que ninguém deve dar asilo a um homem que seja encontrado a vaguear, nu e faminto. Os espiões e os alguazis de Marselha serão prevenido se baterão a costa enquanto o governador do Castelo de If mandará bater o mar. Então, perseguido no mar e cercado por terra, que farei? Tenho fome, tenho frio, perdi até a faca salvadora, que abandonei porque me incomodava para nadar.

Estou à mercê do primeiro camponês que queira ganhar vinte francos entregando-me. Já não tenho forças, nem ideias, nem resolução. Ó meu Deus, meu Deus, vede se já sofri o bastante e se podeis fazer por mim mais do que eu posso fazer por mim próprio!»

No momento em que Edmond, numa espécie de delírio ocasionado pelo esgotamento das suas energias e pelo vazio do seu cérebro, proferia, ansiosamente virado para o Castelo de If, esta prece ardente, viu aparecer na extremidade da ilha de Pommègue, com a sua vela latina desenhada no horizonte e semelhante a uma gaivota que voa rasando a água, um naviozinho que o olhar de um marinheiro só podia reconhecer como uma tartana genovesa na linha ainda pouco clara do mar. A embarcação vinha do porto de Marselha e dirigia-se para o largo impelindo a espuma cintilante diante da proa aguda que abria caminho mais fácil aos seus flancos arredondados.

- Oh! - exclamou Edmond. - E dizer que dentro de meia hora alcançaria aquele navio se não receasse ser interrogado, reconhecido como fugitivo e reconduzido a Marselha! Que fazer? Que dizer? Que história inventar que os possa iludir? Estes homens são todos contrabandistas, meio piratas. A pretexto de fazerem cabotagem, saqueiam a costa. Prefeririam vender-me a praticar uma boa acção estéril.

»Esperemos.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069