O Conde de Monte Cristo - Cap. 3: Os Catalães Pág. 19 / 1080

Fernand soltou um gemido que mais pareceu um soluço e deixou cair a cabeça nos braços pousados em cruz em cima da mesa.

- Se queres que te diga, Fernand - prosseguiu Caderousse, encetando a conversa com a brutalidade grosseira da gente do povo, a quem a curiosidade faz esquecer toda a diplomacia -, tens o ar de um amante derrotado! E sublinhou o gracejo com uma grande gargalhada.

- Ora - interveio Danglars -, um rapaz dessa pinta não nasceu para ser infeliz no amor. Estás a brincar, Caderousse.

- Estou? - redarguiu este. - Pois escuta como ele suspira....

Então, então, Fernand, levanta o nariz e responde-nos. Não é amável não responder aos amigos que nos perguntam como estamos de saúde.

- A minha saúde vai bem - disse Fernand, crispando os punhos, mas sem levantar a cabeça.

- Ah! Estás a ver, Danglars? - disse Caderousse, piscando o olho ao amigo. - Fernand, que vês aqui e é um bom e digno catalão, um dos melhores pescadores de Marselha, está apaixonado por uma linda rapariga chamada Mercédès. Mas, infelizmente, parece que a linda rapariga está, por sua vez, apaixonada pelo imediato do Pharaon. E como o pharaon entrou hoje mesmo no porto… compreendes?

- Não, não compreendo - respondeu Danglars.

- O pobre Fernand deve ter sido posto com dono - concluiu Caderousse.

- E depois? - interveio Fernand, levantando a cabeça e fitando Caderousse como um homem que procura alguém sobre quem descarregar a sua cólera. - Mercédès não depende de ninguém, pois não? É absolutamente livre de amar quem quiser.

- Ah, se encaras o caso assim isso é outra coisa! - redarguiu Caderousse. - Julgava-te um catalão; e tinham-me dito que os Catalães não eram homens que se deixassem suplantar por um rival. Disseram-me até que sobretudo tu, Fernand, eras terrível nas tuas vinganças.

Fernand sorriu palidamente.

- Um apaixonado nunca é terrível - observou.

- Pobre rapaz! - disse Danglars, fingindo lamentar o jovem do mais fundo do coração. - Que queres, não esperava ver regressar assim Dantès, de repente. Talvez o julgasse morto, infiel, quem sabe! Essas coisas são tanto mais dolorosas quanto mais de surpresa nos acontecem.

- Em todo o caso - insinuou Caderousse, que bebia enquanto falava e em quem o famoso vinho de La Malgue começava a produzir efeito -, em todo o caso, dou-lhes a minha palavra de que Fernand não é o único a quem a feliz chegada de Dantès contraria. Não é verdade, Danglars?

- Claro que é verdade, e quase me atreveria a dizer que isso lhe dará azar...





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069