O Conde de Monte Cristo - Cap. 27: O relato Pág. 225 / 1080

Quando soube da morte do velho, voltou. Desta vez era tenente. Na primeira viagem não dissera a Mercédès uma palavra de amor; na segunda recordou-lhe que a amava.

«Mercédès pediu-lhe mais seis meses para esperar e chorar Edmond.

- Tudo somado - disse o abade com um sorriso amargo – dava dezoito meses ao todo. Quem pode exigir mais à noiva mais adorada? Depois murmurou as palavras do poeta inglês: Frailty thy name is woman!

- Passados seis meses - prosseguiu Caderousse -, realizou-se o casamento na Igreja dos Accoules.

- A mesma igreja onde devia casar com Edmond - murmurou o padre. - Só havia que mudar o noivo, e pronto.

- Mercédès casou-se, portanto - continuou Caderousse. - Mas embora aos olhos de todos parecesse calma, nem por isso deixou de desmaiar ao passar diante da Reserva, onde dezoito meses antes fora festejado o seu noivado com aquele que verificaria amar ainda se se atrevesse a olhar o fundo do seu coração.

«Fernand, mais feliz mas não mais tranquilo, pois vi-o nessa época e temia constantemente o regresso de Edmond, Fernand tratou imediatamente de expatriar a mulher e de se exilar ele próprio. Os Catalães ofereciam ao mesmo tempo demasiados perigos e demasiadas recordações.

«Partiram oito dias depois do casamento.

- Tornou a ver Mercédès? - inquiriu o padre.

- Tornei, na altura da guerra de Espanha, em Perpinhão, onde Fernand a deixara. Ela ocupava-se então da educação do filho.

O abade estremeceu.

- Do filho? - disse.

- Sim - respondeu Caderousse -, do pequeno Albert

- Mas para instruir esse filho - continuou o abade - tinha ela própria de se instruir primeiro... Ora, parece-me ter ouvido dizer a Edmond que era filha de um modesto pescador, bela mas inculta.

- Oh, nesse caso conhecia muito mal a sua própria noiva! observou Caderousse. - Mercédès poderia ser rainha, senhor, se a coroa devesse assentar apenas nas cabeças mais belas e inteligentes. A sua fortuna progredia já e ela progredia com a sua fortuna. Aprendia desenho, música... aprendia tudo. Aliás, aqui para nós, creio que fazia tudo isso só para se distrair, para esquecer, que metia tantas coisas na cabeça apenas para combater o que tinha no coração. Mas agora tudo deve ser dito

Continuou Caderousse.

- A riqueza e as honrarias confortaram-na, sem dúvida. É rica, é condessa, e no entanto...

Caderousse deteve-se.

- No entanto, o quê? - perguntou o abade.

- No entanto, estou certo de que não é feliz - respondeu Caderousse.

- Que o leva a supor isso?

- Bom... quando me encontrei na mó de baixo, pensei que os meus antigos amigos me ajudariam em qualquer coisa.

Apresentei-me em casa de Danglars, que nem sequer me recebeu. Fui a casa de Fernand, que me mandou cem francos pelo seu criado de quarto.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069