O Conde de Monte Cristo - Cap. 4: A Conspiração Pág. 24 / 1080

E Caderousse pôs-se a cantar os dois últimos versos de uma canção popular na época:

Todos os maus bebem água,

Como bem o provou o dilúvio.

- Dizia, senhor - insistiu Fernand -, que gostaria de me ajudar.

Mas acrescentou...

- Sim, mas acrescentei... para o ajudar é preciso que Dantès não case com aquela que o senhor ama, e parece-me que o casamento pode muito bem não se realizar sem que Dantès morra.

- Só a morte os separará - disse Fernand.

- Meu amigo, você raciocina como se não tivesse nada na cabeça - atalhou Caderousse -, e aqui o Danglars, que é um finório, um manhoso, um espertalhão, vai-lhe provar que está enganado. Prova, Danglars. Respondo por ti. Diz-lhe que não é necessário que Dantès morra; aliás, seria uma pena que Dantès morresse. É bom rapaz e gosto dele. À saúde de Dantès!

Fernand levantou-se com impaciência.

- Deixe-o - interveio Danglars, retendo o rapaz. - De resto por mais bêbedo que esteja não faz grande diferença. A ausência separa tão bem como a morte... Suponha que existia entre Edmond e Mercédès os muros de uma prisão; estariam tão separados como se houvesse entre eles a pedra de um túmulo.

- Pois sim, mas sai-se da prisão - observou Caderousse, que se agarrava à conversa com os restos da sua inteligência. E quando aquele que sai da prisão se chama Edmond Dantès, vinga-se.

- Que importa! - murmurou Fernand.

- De resto - prosseguiu Caderousse -, sob que acusação se meteria Dantès na prisão? Não roubou, nem matou, nem assassinou.

- Cala-te - ordenou Danglars.

- Não me quero calar - redarguiu Caderousse. - Quero que me digam sob que acusação meteriam Dantès na prisão. Gosto de Dantès. À tua saúde, Dantès! E despejou novo copo de vinho.

Danglars verificou pelos olhos inexpressivos do alfaiate os progressos da embriaguez e prosseguiu, virando-se para Fernand:

- Então, já viu que não há necessidade de o matar?

- De facto não há se, como o senhor dizia há pouco, houver maneira de conseguir que Dantès seja preso. O senhor sabe qual é essa maneira?

- Procurando bem, será possível encontrá-la - respondeu Danglars.

- Mas - continuou - por que diabo me hei-de meter nisso? Porventura é alguma coisa comigo?

- Não sei se é alguma coisa consigo ou não - replicou Fernand, agarrando-o por um braço -, mas o que sei é que o senhor tem qualquer motivo especial de ódio contra Dantès. Quem odeia não se engana a respeito dos sentimentos dos outros.

- Eu motivos de ódio contra Dantès? Palavra que não tenho nenhum. Vi-o infeliz, meu amigo, e a sua infelicidade interessou-me, mais nada. Mas uma vez que julga que procedo em meu próprio benefício, passe muito bem, meu caro amigo, desenrasque-se como puder.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069