O Conde de Monte Cristo - Cap. 30: O 5 de Stembro Pág. 252 / 1080

Maximilien sorriu.

- Sei, meu pai, que é o homem mais honesto que jamais conheci.

- Pronto, está tudo dito. Agora, volta para junto da tua mãe e da tua irmã.

- Meu pai, abençoe-me - pediu o jovem, dobrando o joelho.

Morrel tomou a cabeça do filho nas mãos, aproximou-a de si e beijou-a diversas vezes.

- Oh, sim, sim! - exclamou. - Abençoo-te em meu nome e em nome de três gerações de homens irrepreensíveis. Ouve o que te dizem por meu intermédio: o edifício que a desgraça destruiu pode ser reconstruído pela Providência. Quando me virem morto de semelhante morte os mais inexoráveis terão compaixão de ti. A ti talvez dêem o tempo que me recusariam. Então, procura que a palavra infame não seja pronunciada. Mete ombros à obra. trabalha, rapaz, luta ardente e corajosamente. Vivam, tu, a tua mãe e a tua irmã, com o estritamente necessário para que, dia a dia, o capital daqueles a quem devo aumente e frutifique nas tuas mãos. Lembra-te de que será um belo dia, um grande dia, um dia solene o da reabilitação, o dia em que, neste mesmo gabinete, dirás: «O meu pai morreu por não poder fazer o que eu faço hoje. Mas morreu tranquilo e calmo, porque sabia ao morrer que eu o faria.»

- Oh, meu pai, meu pai! - exclamou o rapaz. - Se apesar de tudo pudesse viver!...

- Se viver, tudo se modificará. Se viver, o interesse transformar-se-á em dúvida, a compaixão em encarniçamento. Se viver, não passarei de um homem que faltou à sua palavra, que não respeitou os seus compromissos, não passarei, enfim, de um falido. Pelo contrário, se morrer (pensa nisto Maximilien), o meu cadáver será apenas o de um homem honesto infeliz. Vivo, os meus melhores amigos evitarão esta casa; morto, Marselha em peso acompanhar-me-á chorando à minha última morada. Vivo, envergonhar-te-ás do meu nome; morto, levantarás a cabeça e dirás: «Sou filho daquele que se matou porque, pela primeira vez, foi obrigado a faltar à sua palavra.» O rapaz soltou um gemido, mas pareceu resignado. Era a segunda vez que a convicção entrava, não no seu coração, mas sim no seu espírito.

- E agora - disse Morrel - deixa-me sozinho e procura afastar as mulheres.

- Não quer ver mais uma vez a minha irmã? - perguntou Maximilien.

O jovem depositava derradeira e recôndita esperança nesse encontro e por isso o sugeria. Mas o Sr. Morrel abanou a cabeça.

- Vi-a esta manhã e despedi-me dela.

- Não tem nenhuma recomendação especial a fazer-me, meu pai? perguntou Maximilien em voz alterada.

- Tenho, sim, meu filho, uma recomendação sagrada.

- Diga, meu pai.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069