O Conde de Monte Cristo - Cap. 30: O 5 de Stembro Pág. 253 / 1080

- A casa Thomson & French foi a única que por humanidade ou talvez por egoísmo - mas não sou eu que posso ler no coração dos homens - teve compaixão de mim. O seu mandatário, que dentro de dez minutos se apresentará para cobrar o montante de uma letra de duzentos e oitenta e sete mil e quinhentos francos, não direi que me concedeu, mas ofereceu-me três meses. Quero que essa casa seja a primeira a ser reembolsada, meu filho, e que considere esse homem sagrado.

- Pois sim, meu pai - disse Maximilien

- E agora, mais uma vez, adeus - disse Morrel. - Vai, vai, preciso de estar só. Encontrarás o meu testamento na secretária do meu quarto.

O rapaz ficou de pé, imóvel, apenas com a sua força de vontade, mas não de execução.

- Escuta, Maximilien - disse o pai. - Supõe que sou soldado como tu, que recebi ordem de tomar um reduto e que sabes que para o tomar terei de morrer. Não me dirias o que me disseste há pouco: «Vá, meu pai, porque se desonrará se ficar, e mais vale a morte do que a desonra!?»

- Sim, sim - admitiu o jovem. - Sim.

E apertando convulsivamente Morrel nos braços:

- Vá, meu pai - disse.

E correu para fora do gabinete.

Depois de o filho sair, Morrel ficou um instante de pé e com os olhos fixos na porta. Em seguida estendeu a mão, encontrou o cordão de uma campainha e tocou.

Pouco depois apareceu Coclès.

Já não era o mesmo homem Aqueles três dias de tortura tinham-no alquebrado. Esta ideia: «A casa Morrel vai cessar os seus pagamentos» curvava-o para o chão mais do que o fariam vinte anos de vida, além dos que já tinha, sobre a sua cabeça.

- Meu bom Coclès - disse Morrel num tom em que seria impossível encontrar expressão -, vais ficar na antecâmara.

Quando aquele senhor que já cá veio há três meses (tu sabes, o mandatário da casa Thomson French) chegar, anunciá-lo-ás.

Coclès não disse nada. Acenou com a cabeça, foi-se sentar na antecâmara e esperou.

Morrel deixou-se cair na sua cadeira. Olhou para o relógio de sala: restavam-lhe apenas sete minutos. O ponteiro andava com uma rapidez incrível; parecia-lhe que o via avançar

O que se passou então, naquele momento supremo, no espírito daquele homem que, ainda novo, em consequência de um raciocínio talvez falso, ou pelo menos especial, se ia separar de tudo o que amava no mundo e deixar a vida, que tinha para si todas as doçuras da família, é impossível exprimir. Seria necessário ver, para se fazer uma ideia, a sua testa coberta de suor, e no entanto resignada, e os seus olhos cheios de lágrimas, e no entanto erguidos ao céu.

O ponteiro continuava a andar e as pistolas estavam carregadas. Estendeu a mão, pegou numa e murmurou o nome da filha.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069