O Conde de Monte Cristo - Cap. 30: O 5 de Stembro Pág. 254 / 1080

Em seguida pousou a arma mortífera, pegou na pena e escreveu algumas palavras.

Parecia-lhe que se não despedira o suficiente da filha querida.

Depois tornou a olhar para o relógio. Já não contava os minutos, mas sim os segundos.

Voltou a pegar na arma, com a boca entreaberta e os olhos fixos no ponteiro. Depois estremeceu ao ouvir o ruído que ele próprio fazia ao armar o cão.

Nesse momento cobriu-lhe a testa um suor mais frio e uma angústia mortal apertou-lhe o coração.

Ouviu a porta da escada ranger nos gonzos.

Em seguida abriu-se a do gabinete.

O relógio ia dar onze horas.

Morrel não se virou; esperava apenas que Coclès dissesse estas palavras: «O mandatário da casa Thomson & French.»

Aproximou a arma da boca...

De súbito, ouviu um grito: era a voz da filha.

Virou-se e viu Julie; a pistola caiu-lhe das mãos.

- Pai! - gritou a rapariga, sem fôlego e quase morta de alegria. - Salvo! Está salvo! E lançou-se-lhe nos braços, erguendo na mão uma bolsa de rede de seda vermelha.

- Salvo, minha filha? Que queres dizer? - perguntou Morrel.

- Salvo, sim! Veja, veja! - respondeu a jovem.

Morrel pegou na bolsa e estremeceu, pois uma vaga recordação lembrou-lhe que aquele objecto já lhe pertencera.

De um lado estava a letra de duzentos e oitenta e sete mil e quinhentos francos.

A letra estava paga.

Do outro, estava um diamante do tamanho de uma avelã, com estas três palavras escritas num bocadinho de pergaminho: «Dote de Julie.» Morrel passou a mão pela testa. Julgava sonhar.

Naquele momento o relógio deu onze horas.

A campainha vibrou para ele como se cada pancada do martelo de aço fizesse vibrar-lhe o próprio coração.

- Vejamos, minha filha, explica-te. Onde encontraste esta bolsa?

- Numa casa das Alamedas de Meilhan, no n.º 15, ao canto da chaminé de um pobre quartito do quinto andar.

- Mas esta bolsa não te pertence! - gritou Morrel.

Julie estendeu ao pai a carta que recebera de manhã

- E foste sozinha a essa casa? - perguntou Morrel, depois de ler.

- Emmanuel acompanhou-me, meu pai. Devia esperar-me à esquina da Rua do Museu, mas, coisa estranha, quando voltei já lá não estava.

- Sr. Morrel! - gritou uma voz na escada. - Sr. Morrel!

- É a sua voz - disse Julie.

Ao mesmo tempo, Emmanuel entrou. com o rosto transtornado de alegria emoção.

- O pharaon! - gritou. - O Pharaon!

- Que diz? O Pharaon? Endoideceu, Emmanuel? Sabe muito bem que naufragou.

- O Pharaon! Senhor, assinalam o Pharaon; o Pharaon está a entrar no porto.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069