O Conde de Monte Cristo - Cap. 31: Itália - Simbad, o marinheiro Pág. 265 / 1080

O homem que se afastara reapareceu de súbito, do lado oposto àquele por onde desaparecera, e fez um sinal com a cabeça à sentinela, que se virou e limitou a pronunciar estas palavras:

- S'accommodi!

- O s'accommodi italiano tem diversos significados. Quer dizer ao mesmo tempo: venham, entrem, sejam bem-vindos, façam de conta que estão em sua casa, etc. É como aquela frase turca de Molière que tanto espantava o burguês gentil-homem pela quantidade de coisas que continha.

Os marinheiros não esperaram que os convidassem segunda vez: em quatro remadas, a embarcação chegou a terra. Gaetano saltou para a praia e trocou mais algumas palavras em voz baixa com a sentinela. Os seus companheiros desembarcaram um após outro.

Por fim, desembarcou Franz.

Trazia uma das espingardas em bandoleira; Gaetano empunhava a outra e um dos marinheiros a carabina. A sua indumentária reflectia ao mesmo tempo algo de artista e de peralvilho o que inspirou aos anfitriões algumas desconfianças, e consequentemente alguma inquietação.

Amarraram a embarcação à margem e deram alguns passos a fim de procurarem uma instalação cómoda. Mas sem dúvida o ponto para onde se dirigiam não era da conveniência do contrabandista que fazia de sentinela, pois gritou a Gaetano:

- Para aí não, por favor!

Gaetano balbuciou uma desculpa e, sem insistir mais, dirigiu-se para o lado oposto, enquanto dois marinheiros iam acender archotes na fogueira a fim de alumiarem o caminho.

Ao fim de cerca de trinta passos detiveram-se numa esplanadazinha toda rodeada de rochedos nos quais tinham sido escavados uma espécie de cadeirões mais ou menos idênticos a pequenas guaritas onde se montaria guarda sentado. Em redor vegetavam em veios de terra vegetal alguns carvalhos-anões e tufos espessos de murta. Franz abaixou um archote e verificou por um monte de cinzas que não era o primeiro a notar o conforto daquele local, que devia ser uma das estações habituais dos visitantes nómadas da ilha de Monte-Cristo.

Quanto à sua expectativa de acontecimentos, cessara. Logo que pusera pé em terra firme e verificara as disposições, senão amistosas, pelo menos indiferentes dos seus anfitriões, toda a sua preocupação desaparecera, e perante o odor do cabrito que assava no acampamento vizinho a preocupação transformara-se em apetite.

Tocou no assunto a Gaetano, que lhe respondeu não haver nada mais simples de obter do que uma ceia quando se tinha, como eles na sua embarcação, pão, vinho e seis perdizes, e era fácil conseguir um bom fogo para as assar.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069