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Capítulo 31: Itália - Simbad, o marinheiro

Página 271
De modo que fora condenado pelo bei a cortarem-lhe a língua, a mão e a cabeça. A língua no primeiro dia, a mão no segundo e a cabeça no terceiro. Sempre desejara ter um mudo ao seu serviço. Por isso, esperei que lhe cortassem a língua e fui propor ao bei que mo desse em troca de uma magnífica espingarda de dois tiros que na véspera me parecera despertar os desejos de, sua alteza. Hesitou um instante, de tal modo estava empenhado em acabar com o pobre diabo, mas juntei à espingarda uma faca de caça inglesa com a qual eu levara a melhor ao iatagã de sua alteza. Então, o bei decidiu-se a perdoar-lhe o corte da mão e da cabeça, mas com a condição de nunca mais pôr os pés em Tunes. A recomendação era inútil. Logo que o infiel avista, o mais longe que seja, as costas de África, corre para o fundo do porão e ninguém consegue fazê-lo sair de lá enquanto não está fora de vista a terceira parte do mundo.

Franz ficou um momento mudo e pensativo, sem saber que pensar da bonomia cruel com que o anfitrião acabava de lhe contar o caso.

- E como o respeitável marinheiro cujo nome adoptou passa a vida a viajar? - perguntou para mudar de assunto.

- Passo. Foi um juramento que fiz num tempo em que não pensava muito poder cumpri-lo - respondeu o desconhecido, sorrindo. - Fiz outros como este e espero que se cumpram todos a seu tempo.

Embora Simbad tivesse pronunciado estas palavras com o maior sangue-frio, os seus olhos adquiriram uma expressão de ferocidade estranha.

- Creio que sofreu muito, senhor - disse-lhe Franz.

Simbad estremeceu e olhou-o fixamente.

- Porque diz isso? - perguntou.

- Por tudo - respondeu Franz. - Pela sua voz, pelo seu olhar, pela sua palidez, e até pela vida que leva.

- Eu?! Levo a vida mais feliz que conheço, uma autêntica vida de paxá. Sou o rei da criação: se me sinto bem num sítio, fico; se me aborreço parto. Sou livre como os passarinhos, tenho asas como eles, e as pessoas que me rodeiam obedecem-me cegamente. De vez em quando divirto-me a escarnecer a justiça humana roubando-lhe um bandido que procura, um criminoso que persegue. Depois, tenho a minha própria justiça, baixa e alta, sem delongas e sem apelo, que condena ou absolve e com a qual ninguém tem nada a ver! Oh, se tivesse saboreado a minha vida não quereria outra e nunca mais regressaria ao mundo, a menos que tivesse algum grande projecto a cumprir!

- Uma vingança, por exemplo... - insinuou Franz.

O desconhecido pousou no jovem um desses olhares que mergulham profundamente no coração e no cérebro.

- E porquê uma vingança? - perguntou.

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Capa do livro O Conde de Monte Cristo
Páginas: 1080
Página atual: 271

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Marselha - A Chegada 1
O pai e o filho 8
Os Catalães 14
A Conspiração 23
O banquete de noivado 28
O substituto do Procurador Régio 38
O interrogatório 47
O Castelo de If 57
A festa de noivado 66
Os Cem Dias 89
O número 34 e o número 27 106
Um sábio italiano 120
A cela do abade 128
O Tesouro 143
O terceiro ataque 153
O cemitério do Castelo de If 162
A Ilha de Tiboulen 167
Os contrabandistas 178
A ilha de Monte-Cristo 185
Deslumbramento 192
O desconhecido 200
A Estalagem da Ponte do Gard 206
O relato 217
Os registos das prisões 228
Acasa Morrel 233
O 5 de Stembro 244
Itália - Simbad, o marinheiro 257
Despertar 278
Bandidos Romanos 283
Aparição 309
A Mazzolata 327
O Carnaval de Roma 340
As Catacumbas de São Sebastião 356
O encontro 369
Os convivas 375
O almoço 392
A apresentação 403
O Sr. Bertuccio 415
A Casa de Auteuil 419
A vendetta 425
A chuva de sangue 444
O crédito ilimitado 454
A parelha pigarça 464
Ideologia 474
Haydée 484
A família Morrel 488
Píramo e Tisbe 496
Toxicologia 505
Roberto, o diabo 519
A alta e a baixa 531
O major Cavalcanti 540
Andrea Cavalcanti 548
O campo de Luzerna 557
O Sr. Noirtier de Villefort 566
O testamento 573
O telégrafo 580
Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588
Os fantasmas 596
O jantar 604
O mendigo 613
Cena conjugal 620
Projetos de casamento 629
No gabinete do Procurador Régio 637
Um baile de Verão 647
As informações 653
O baile 661
O pão e o sal 668
A Sra. de Saint-Méran 672
A promessa 682
O jazigo da família Villefort 705
A ata da sessão 713
Os progressos de Cavalcanti filho 723
Haydée 732
Escrevem-nos de Janina 748
A limonada 762
A acusação 771
O quarto do padeiro reformado 776
O assalto 790
A mão de Deus 801
Beauchamp 806
A viagem 812
O julgamento 822
A provocação 834
O insulto 840
A Noite 848
O duelo 855
A mãe e o filho 865
O suicídio 871
Valentine 879
A confissão 885
O pai e a filha 895
O contrato 903
A estrada da Bélgica 912
A estalagem do sino e da garrafa 917
A lei 928
A aparição 937
Locusta 943
Valentine 948
Maximilien 953
A assinatura de Danglars 961
O Cemitério do Père-lachaise 970
A partilha 981
O covil dos leões 994
O juiz 1001
No tribunal 1009
O libelo acusatório 1014
Expiação 1021
A partida 1028
O passado 1039
Peppino 1049
A ementa de Luigi Vampa 1058
O Perdão 1064
O 5 de Outubro 1069