O Conde de Monte Cristo - Cap. 33: Bandidos Romanos Pág. 287 / 1080

- Sr. Visconde - volveu-lhe mestre Pastrini, ainda ferido até ao fundo do coração pela dúvida manifestada por Albert acerca da veracidade das suas palavras -, não digo isto por Vossa Excelência, digo-o pelo seu companheiro de viagem, que conhece Roma e sabe que se não brinca com estas coisas.

- Meu caro - disse Albert dirigindo-se a Franz -, aí está uma aventura admirável e natural: carregamos a nossa caleça de pistolas, bacamartes e espingardas de dois tiros. Luigi Vampa vem para nos prender, mas nós é que o prendemos. Trazemo-lo para Roma, em homenagem a Sua Santidade, que nos pergunta o que pode fazer para recompensar tão grande serviço. Então, pedimos pura e simplesmente um coche e dois cavalos das suas cavalariças e assistimos ao Carnaval de carruagem. Sem contar que provavelmente o povo romano, reconhecido, nos coroará no Capitólio e nos proclamará, como Cúrcio e Horácio Cocles, salvadores da pátria.

Enquanto Albert proferia estas palavras, mestre Pastrini fazia uma cara que em vão tentaríamos descrever.

- Antes de mais nada, onde arranjaria as pistolas, os bacamartes e as espingardas de dois tiros para encher a carruagem? - perguntou Franz a Albert.

- Garanto-lhe que não será no meu arsenal, porque em Terracina tiraram-me até a minha faca-punhal. E a você?

- A mim fizeram-me o mesmo em Aqua-Pendente.

- Aqui tem, meu caro hoteleiro! - exclamou Albert, acendendo segundo charuto na ponta do primeiro. - Sabe que é muito cómoda para os ladrões essa medida, que para mim tem todo o ar de ter sido tomada contas a meias com eles?

Mestre Pastrini achou sem dúvida o gracejo comprometedor, pois só respondeu em parte, e mesmo assim dirigindo a palavra a Franz, como se este fosse a única pessoa sensata com quem se pudesse entender convenientemente.

- Vossa Excelência sabe que não é hábito as pessoas defenderem-se quando são atacadas por bandidos.

- Como?! - exclamou Albert, cuja coragem se revoltava à ideia de se deixar roubar sem dizer nada. - Como? Não é hábito?...

- Não! Porque toda a defesa seria inútil. Que quer fazer contra uma dúzia de bandidos que saem de um fosso, de um pardieiro ou de um aqueduto e que o visam todos ao mesmo tempo?

- Com mil demónios, quero que me matem! - gritou Albert

O hoteleiro virou-se para Franz com um ar que queria dizer: «Decididamente, Excelência, o seu companheiro é louco.”

- Meu caro Albert - declarou Franz -, a sua resposta é sublime e vale o Qu'il mourût do velho Corneille. Simplesmente, quando Horácio respondia isso tratava-se da salvação de Roma e a coisa valia a pena. Mas quanto a nós repare que se trata simplesmente da satisfação de um capricho e que seria ridículo, por um capricho, arriscarmos a vida.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069