O Conde de Monte Cristo - Cap. 33: Bandidos Romanos Pág. 291 / 1080

E Teresa via-se rica, metida nos mais lindos vestidos e seguida de criados de libré. Depois de passarem todo o dia a tecer o seu futuro com tão loucos e brilhantes arabescos, separavam-se para reconduzirem os seus carneiros ao aprisco e descerem das alturas dos seus sonhos à humildade da sua verdadeira posição.

»Um dia, o jovem pastor disse ao intendente do conde que vira um lobo sair das montanhas da Sabine e rondar-lhe o rebanho. O intendente deu-lhe uma espingarda. Era o que Vampa queria.

»Por acaso, a espingarda era uma excelente arma de Bréscia, que disparava balas com a precisão de uma carabina inglesa. Simplesmente, um dia o conde, ao matar uma raposa ferida, partira-lhe a coronha e a espingarda fora atirada para o refugo.

»Isso porém não constituía nenhuma dificuldade para um escultor como Vampa. Examinou a coronha primitiva, calculou o que seria preciso modificar para a adaptar à sua vista e fez outra coronha carregada de ornamentos tão maravilhosos que se quisesse ir vendê-la à cidade lhe dariam certamente, só pela madeira, quinze ou vinte piastras.

»Mas nem pela cabeça lhe passava fazer isso. Uma espingarda fora durante muito tempo o sonho do rapaz. Em todos os países em que a independência substitui a liberdade a primeira necessidade que experimenta qualquer coração forte, qualquer organização poderosa, é a de possuir uma arma que assegure ao mesmo tempo o ataque e a defesa e que, tornando terrível aquele que a usa, o torne com frequência temido.

»A partir daquele momento, Vampa dedicou todos os momentos livres a exercitar-se com a espingarda. Comprou pólvora e balas e tudo lhe serviu de alvo: o tronco da oliveira triste, enfezada e cinzenta que vegetava na vertente das montanhas da Sabine; a raposa que à tardinha saia do seu covil para começara sua caçada nocturna, e a águia que planava no ar. Em breve se tornou tão hábil que Teresa perdeu o medo que experimentara ao princípio ao ouvir as detonações e divertiu-se a ver o seu jovem companheiro colocar a bala da espingarda onde queria, com tanta precisão como se a fosse lá colocar com a mão.

»Uma tarde, um lobo saiu efectivamente de um bosque de abetos junto do qual os dois jovens costumavam instalar-se. Mas ainda não dera dez passos em campo aberto quando caiu morto.

»Orgulhosíssimo do seu belo tiro, Vampa pô-lo às costas e levou-o para a quinta.

»Todas estas proezas davam a Luigi certa fama nos arredores da quinta.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069